É tiro pra cá. É assalto pra lá. É medo pra todo lado. É ruim. É cruel, mas essa necessidade de preservação que a violência nos obriga a ter está fazendo com que a população adote um novo comportamento. Parece que está, enfim, diminuindo aquele triste egoísmo de cada um cuidar apenas de si, olhar só para o próprio umbigo como se nada mais houvesse em volta.
Os tiroteios e tido tipo de violência de que nos tornamos reféns, está despertando uma cada vez maior necessidade de tomarmos conta uns dos outros para que consigamos sobreviver, mesmo que não seja em com a paz total e definitiva como é o desejo de todos.
Na televisão a imagem de um homem tentando correr (proteger e salvar) com uma criança, que talvez nem seja sua, no colo chama a atenção. Ele tropeça e cai, mas imediatamente outros também apavorados cidadãos surgem para proteger a criança e ajudar o homem caído. Imagem terrível pela circunstância, mas também muito bonita e significativa: ninguém tratou de salvar apenas a própria pele. Foi e tem sido cada um por e cada um por todos. Parece que estamos criando consciência de que só assim, unidos e de mão dadas, conseguiremos sobreviver a esse caos.
Na Cinelândia, no Rio, que costuma ser a mais democrática das praças para reivindicações populares, mas que mesmo assim vive cercada por mini e máxis marginais, uma senhora caminha tranquilamente (se é que alguém pode caminhar tranquilamente nessa cidade) e resolve abrir a bolsa para procurar talvez um papel, um documento, um remédio, um doce. Nem se dá conta do perigo a que se expõe ainda mais até que um senhor (pouco mais de 30 anos) se aproxima educadamente e alerta: “Senhora, não abra a bolsa não abra sua bolsa na rua. É perigoso, um convite para assalto. A senhora abriu a bolsa e foi logo apontada por um bando de meninos de rua. Quando quiser pegar alguma coisa na bolsa entre em um banco, em uma loja para ficar mais protegida”.
A senhora, que não aparenta ser assídua frequentadora da hoje perigosíssima Cinelândia, fica surpresa e apenas exclama: “Eu não sabia que era tão complicado assim andar na rua”. O episódio poderia não ter a menor importância se não fosse mais uma demonstração do quanto estamos aprendendo a proteger uns aos outros, a criar uma espécie de trincheira humana contra a violência que, infelizmente, também é humana.
Todo dia e toda hora, tem alguém orientando alguém sobre os perigos a que estamos expostos. Estamos, é verdade com o custo de um medo que nos mata aos poucos, aprendendo a nos cuidar e, o que é mais importante, a cuidar dos outros. Ainda é pouco. Só estaremos completos como humanos, quando aprendermos a cumprir, inteira e totalmente, a missão de cuidar - e cuidar cada vez mais – do próximo.
* Só assim seremos inteiramente felizes. E humanos.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
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