sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Crônica - CLUBES DE ESQUINA

É íntima a nossa relação com as esquinas da vida. Nelas esperamos o sinal abrir para seguir em frente na calçada e na vida. Nelas acontecem os encontros casuais e até os definitivos que podem mudar nosso destino. Nas esquinas sempre encontramos tempo e disposição para jogar conversa fora, desabafar, aprender e ensinar. Afinal, viver é a arte de colecionar experiências. Vividas e ouvidas.
É nas esquinas que estão também alguns dos mais tradicionais botequins da cidade - desses que nos permitem tomar, a qualquer hora, uma cerveja gelada, encontrar velhos amigos e fazer novas amizades. As esquinas funcionam como um o grande divã da psicanálise do povo: é nelas que passamos, sem perceber, horas divagando, pensando, aconselhando, falando de nossas angústias, problemas, alegrias, planos e esperanças.
As esquinas representam vida que circula em torno delas, fazendo-nos parar nos sinais vermelhos que, como na vida, acabam sempre ficando verde, sinal de que podemos e devemos seguir em frente. Para só parar quando for inevitável.
As esquinas estão presentes no nosso cotidiano desde a infância. E nelas que jogamos bola de gude e que marcamos nossos encontros, sejam felizes, importantes ou não. Agora as esquinas voltam, a ganhar, e não mais só nos subúrbios, vida em torno em torno dos botecos, que são uma característica de cada esquina carioca. As esquinas estão nos permitindo resgatar o velho hábito de reunir grupos de amigos para encontros de fim de semana em torno de uma churrasqueira, muita cerveja gelada e carne preparada com tempero da alegria da conversa fiada, do riso leve e solto, sem lenço e sem documento.
Esse resgatado hábito é bom para os botequins e para quem em torno deles se reúne: os botecos ficam mais felizes, vendem mais cerveja turmas podem divertir-se a preços que só uma esquina de amigos permite. Só nas esquinas é possível passar o dia descontraidamente e comendo churrasco por um preço que só a “vaquinha” entre amigos possibilita e pagando assim o preço justo que nenhuma churrascaria consegue cobrar por mais promoções que faça.
Churrasco e cerveja são bom motivo e boa desculpa para sair de casa e reunir amigos. É nesses encontros que se fala de tudo, que se diz realmente o que se pensa e que se aprende com quem já teve variadas experiências humanas. Experiências de vida.
As reuniões em torno das esquinas e dos botequins da vida são a vida e nos deixam também a impressão de que cada um busca no grupo a segurança que as esquinas não nos dão quando estamos sós. É como se um estivesse protegendo o outro. Afinal, sabemos todos que é a união a que faz a força.
Papo descontraído, pedaços de carne e cerveja gelada podem garantir em cada esquina o que há de melhor em diversão, o melhor papo, os mais variados e perfeitos aprendizados e a oportunidade maior e melhor de conversar, de entender definitivamente que é sempre no companheiro que está ao lado que se pode encontrar o apoio necessário. Aprender principalmente que é fundamental viver em comunidade porque é impossível viver sozinho.
* Essa conversa do “antes só do que mal acompanhado” é desculpa de quem não tem amigos. Ou tem medo de fazê-los

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