quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crônica - CARNAVAL DE ENGANOS

Vivemos num país em que se faz, principalmente na política, carnaval o ano inteiro, mas tem o momento exato de botar o bloco na rua. Perdeu-se no tempo o tempo em que se podíamos ir tranquilamente às ruas para fazer a festa, mesmo que fosse só para no carnaval olhar pessoas fantasiadas, geralmente com muita graça e criatividade.
Não tem mais fantasia. Na verdade nem tem mais prazer no carnaval de rua e, portanto, de todos. Hoje somos arrastados pelos blocos (no Rio os da violência e do medo e em Brasília o bloco dos políticos que também são de meter medo, além de meter a mão). Ninguém mais é besta de sair por aí no carnaval para correr perigo de morte. O carnaval deixou de ter e ser vida. A necessidade de sobreviver (em todos os sentidos), de economizar, de não gastar dinheiro em besteira, rasgou todas as fantasias. Internas e externas.
Hoje até o mais animado dos foliões prefere usar uma camiseta simples e baratinha e um também baratinho e colorido short para quando tem coragem, dar uma voltinha pelas praças e pelos palanques. As fantasias, que realmente tem a ver com carnaval, só aparecem nas escolas de samba que ainda são um luxo.
A mudança de hábitos imposta pela necessidade de fazer economia não acontece só com as fantasias no carnaval. Muita coisa está mudando e existem exemplos. Já reparam que desde que surgiram as sacolas de carregar compras de supermercado os sacos de lixo quase não são mais utilizados: forram-se as lixeiras com os sacos de supermercado.
Já reparam também que a maioria das mulheres pinta os cabelos (todas as mulheres pintam os cabelos) em casa e não mais no salão de beleza? Outras condutas impostas pela necessidade de economizar ganham – e cada vez mais – espaço no cotidiano. Procuramos os produtos mais baratos mesmo sabendo que na maioria das vezes são de qualidade bastante inferior.
O carnaval, época de descontração e alegria, também entrou no ritmo da marchinha da economia. Afinal, é bem mais econômico comprar camiseta e short nos camelôs e se acabar, além de acabar com a roupa, num carnaval que não exige mais criatividade e não tem e nem dá espaço para que se possa ser um alegre e tranqüilo folião. Fantasia agora só se for blindada.
Nosso carnaval está deixando de ser uma festa na qual o folião comum pode exercitar sua criatividade e seu protesto. Até o carnaval está perdendo sua razão maior de ser: a alegria descontraída, brincalhona e feliz. Saudável. Até isso estamos permitindo que nos tirem, nos roubem.
* E sem fantasias (de vestir e de sonhar) estamos cada vez mais nus

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