sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Crônica - SOLIDARIEDADE AO ALCANCE DE TODOS

Amparada pelo agente de segurança a senhora cega, com o rosto amassado e deformado, embarca no vagão do metrô e bengala em uma das mãos usa a outra para segurar-se em um daqueles “canos” nos quais se seguram diariamente as mãos sujas de centenas de passageiros.
O metrô dá a partida e em menos de dois minutos uma bonita moça de uns 30 anos de idade levanta na outra ponta do vagão e vem caminhando desequilibrada até a passageira cega da qual se aproxima para carinhosamente protegida levá-la para sentar no lugar que ela, a moça solícita, ocupava. É um gesto de carinho e atenção que a todos comove.
Comove e surpreende: ainda nos chamam atenção atitudes de carinho e de solidariedade que deveriam ser comuns no dia a dia de cada um de nós. Não são porque a vergonha, a desconfiança e o medo da boa ação, limitam nossos melhores gestos e as mais carinhosas atitudes. Parece que por esses e outros motivos estamos esquecendo de fazer tudo que podemos pelos outros.
É costume dizer que o brasileiro só é solidário na dor. É, mas nem tanto. A boa ação que a moça pratica no vagão do Metrô não é tão comum. Pelo contrário: no próprio metrô quase ninguém respeita o espaço e muito menos os lugares destinados aos idosos e deficientes físicos, muitas vezes obrigados a viajar apoiados na muleta porque a estudante bonitinha ou o adolescente moderninho não aprenderam ainda que é preciso respeitar os outros e respeitar as regras.
Não é a primeira vez que vejo assisto a uma ação com esse tipo de solidariedade: ainda recentemente, na véspera do episódio da mulher cega, todos os passageiros do vagão do Metrô correram para ajudar uma senhora que tropeçou ao embarcar e caiu dentro do vagão. Foi um Deus nos acuda de gritos de socorro, de manifestações, algumas até exaltadas, nos microfones que permitem pedir ajuda, que, aliás, veio solícita, através de agentes de segurança, na estação seguinte.
Os dois episódios mostram que, apesar da crueldade desse tempo de violência e medo, uma boa parcela da população (geralmente os mais pobres) ainda guarda a consciência de que a solidariedade é fundamental em todas as ocasiões. É ela, a solidariedade, que nos une em todos os momentos e nos faz perceber claramente e cada vez mais que dependemos sempre da ajuda e do carinho de cada um. Dependemos sempre uns dos outros.
* Só olhando mais para os outros é que podemos olhar melhor para o futuro.

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