A vida virou uma roleta. Nós somos os números
Daqui a pouco eu, você, todos nós estaremos andando na rua e alguém gritará um número. Não se surpreenda é com você mesmo que alguém ( ou melhor, outro número) quer falar. Devagar e sempre estamos virando uma sequência de números, perdendo nome e sobrenome e muitas vezes até a identidade. No futuro seremos apenas uma numeração na roleta da vida.
Já é assim: no banco você é um número de senha, no laboratório de análises clínicas também, nas repartições públicas nem se fala. Somos carimbados e numerados em todas as esquinas: tem número de carteira de identidade (a única identidade que nos resta), de título de eleitor, de carteira de motorista, de cartão de crédito, de talão de cheque, de tudo. Afinal, quem somos nós que nem números exatos conseguimos ser? Em cada lugar ganhamos um número diferente como se fossemos uma simples máquina. Se com nome e sobrenome já não nos respeitavam tanto, com e como números respeitam muito menos. Parece que estamos deixando de ser gente para ser um amontoado de algarismos numéricos. Exatamente como acontecia nos campos de concentração no quais marcavam seres humanos com um número no braço, no ombro, nas costas. Na vida.
Agora a crueldade dos números não é tão violenta, mas nos violenta de qualquer maneira. Nós, os numerados, é que, preocupados em não perder as senhas da vida nem percebemos mais. Não percebemos inclusive que como os números estamos sendo descartados cada vez mais. Diante dessa situação até fingimos usando os números que nos marcam para marcar volantes da sena, mega-sena e até do jogo do bicho. Quem sabe o número que está marcando nosso dia a dia não é o da “sorte”, o do bicho que nos fará ganhar alguns trocados. Pensando bem talvez estejamos, como no jogo, virando bichos numerados.
Os números nos perseguem o dia inteiro, seja para fazer as contas e saber se conseguiremos, com salários insuficientes, comer até o final do mês ou para tomar qualquer outra decisão. Os números também estão diariamente nos jornais que não se cansam de publicar pesquisas e mais pesquisas desemprego e violência, que é a única que só faz somar número de vítimas.
De repente, com tamanha insistência, parece que as pesquisas recuperam o interesse e a credibilidade que tinham perdido há tempo. O brasileiro nunca acreditou em pesquisas, sempre desconfiou dos resultados que “são manipulados”, mas agora que está se transformando em um frio número volta a tentar acreditar em outros números. Pesquisas parecem ter virado donas da verdade e não é bem assim: os meios de comunicação recebem uma pesquisa atrás da outra e na corrida pelos números de venda, publicam as pesquisas sem ao menos questionar e apurar. O resultado é que muitos erros são cometidos, mas mesmo assim são vistos como uma verdade que nem sempre é real. Há quem ache que os números facilitam as coisas. Pode até ser, mas não é exatamente o que acontece porque embora façam parte de uma matemática que se diz exata os números também erram, distorcem as coisas, mudam destinos. Pessoas não podem ser tratadas apenas como um número até porque a vida não é uma conta, um cálculo exato.
* Se fosse não teria a menor graça
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
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