quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Crônica - SOLIDÃO É O MEDO DA ALMA

Até a felicidade nos assusta. Vivemos cercados de medo e não só aquele até justificável medo da violência, de um acidente, de uma cirurgia, da dor de uma maneira geral. O medo maior está sempre ligado ao que se apresenta como novidade. O novo sempre nos provoca angústia, insegurança e até pavor simplesmente porque tudo que é novo é desconhecido e, portanto, significa uma incógnita, uma incerteza, que pode até nos trazer a tal felicidade e a felicidade também é bastante assustadora.
Entre os nossos muitos medos emocionais um dos maiores é o da solidão: ninguém gosta de ficar sozinho (ou seria consigo mesmo?) e assim não são poucas as pessoas que se cercam de outras pessoas apenas para ter certeza de que não estão sozinhas. Nunca percebem que a solidão não termina ao lado de uma companhia. Na maioria das vezes não há movimento ou pessoas que nos tirem das profundezas de uma solidão aterradora - uma solidão que não podemos dividir com ninguém porque é nossa. Só nossa. Está dentro de cada um de nós.
É comum ouvir dizer que só sofre com a solidão quem não tem vida interior. Em outras palavras: solidão dói mais, muito mais, em quem não tem a si próprio, não se curte e não curte estar sozinho: precisa sempre de uma companhia que sirva apenas para dar a ilusão de que o solitário não está só. .Amor, felicidade e solidão são sentimentos que ganham sempre novas definições porque são indefiníveis, indecifráveis.
Mas existe sempre aquela definição (depende do momento) que nos mostra mais claramente o que buscamos - e buscamos a vida inteira – entender. No caso da solidão talvez a mais perfeita e completa esteja em um maravilhoso texto de Chico Buarque de Holanda, que me chegou pelas mãos da minha amiga Deborah Salvador e que me atrevo a aqui reproduzir:
Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar
Isto é saudade
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos
Isto é equilíbrio
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida
Isto é um princípio da natureza
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado
Isto é circunstância
Solidão é muito mais do que isso. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa Alma
* Agora digo eu: solidão é uma forma de medo. Dos muitos medos que carregamos por toda vida

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