terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Crônica - CAMISA DA VIOLÊNCIA

“Não vamos mais passar o fim de semana aí porque o Rio está muito violento e perigoso” – não é a primeira vez que ouço uma família paulista dizer isso. É verdade, mas soa muito estranho: até parece que a violência passa longe de São Paulo, onde, aliás, é muito mais intensa do que no Rio. Que o digam os pivetes (uma expressão praticamente inventada e nacionalizada em São Paulo), onde verdadeiros bandos cercam e apavoram as mais movimentadas ruas da capital paulista.
A violência impera no Brasil inteiro (as estatísticas estão aí para provar), mas é o que acontece no Rio que ganha, no país inteiro, mais repercussão. Até parece que a violência carioca está substituindo os nossos belos cartões postais. O Rio, que já foi (e por mais que não queiram e não deixem ainda é) a capital cultural do país é visto agora como a capital da violência. É, mas não é tanto assim.
O Rio está bem grandinho ( faz aniversário hoje) e é hora de mudar o ,digamos, guarda-roupa. Vejamos: faz tempo que ouvi o empresário Ricardo Amaral, que é paulista, ( foi ele quem ajudou, com suas variadas casas noturnas, a fazer essa cidade ficar mais divertida) declarar que o problema maior é que “o Rio veste a camisa da violência”, ou seja, só falamos e deixamos todo mundo falar nesse assunto, fazendo com que qualquer batedor de carteira vire um bandidão.
O Rio precisa sim e urgentemente acordar (esse talvez seja o nosso sonho maior) sem violência, mas precisa também acordar diariamente consciente de que temos mais a mostrar, fazer e falar do que apenas em violência, que não é um privilégio nosso. É um pesadelo nacional.
Está mais do que na hora de o Rio rasgar, em todos os sentidos, essa camisa da violência, que, repito não é só nossa. Basta lembrar o que acontece em outros estados: na Bahia durante o carnaval ocorre um arrastão atrás do outro fora o que acontece todos os dias em todos os estados. Sem a dimensão que as coisas ganham por aqui.
O carioca não pode mais permitir que só o Rio esteja pintado de vermelho-sangue no mapa do Brasil. Não é preciso tapar o sol com a peneira e fingir que a violência não existe. É preciso, sim, acabar com ela, mas com ações reais das autoridades ( até que temos tido algumas) e sem os repetitivos discursos demagógicos.
Não podemos mais permitir que a violência seja o nosso assunto diário e muito menos o nosso cartão postal negativo. Essa é uma violência verbal que cometemos contra a cidade, contra nós mesmos. O Rio tem muito mais a falar, mostrar e fazer. Sem, é claro, esquecer que a realidade da violência está aí, mas não é a única que “nos cabe nesse latifúndio”. Quem não quiser vir ao Rio (não sabe o que está perdendo) que não venha, mas não faça discursos-desculpas amedrontados e exagerados. A camisa da violência não é nossa. É de todo o país, Parece que só nós a vestimos.
* Como se fosse uma roupa de marca

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