segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Crônica - A CULPA TAMBÉM É NOSSA

É alarmante a cada vez maior ameaça de dengue nesse ensolarado Rio (o sol parece ser carioca da gema) que passou a ter o sempre tão esperado verão como uma ameaça. Mais preocupante ainda é saber que a culpa é nossa: cansam de nos avisar da necessidade de alguns simples cuidados, mas deixamos pra lá como se o tenebroso mosquito fosse picar apenas os postes.
É impressionante como o ser humano é desleixado na hora de cuidar dele mesmo: quando se trata do nosso corpo, da nossa saúde, do nosso bem estar deixamos tudo para depois e depois pode ser muito tarde. Tem sido em alguns casos de dengue.
Estamos acostumados (burramente, é verdade) a culpar os outros em tudo e por tudo. Culpamos (até porque é muito fácil) principalmente o governo, que tem, sim, muitas culpas e responsabilidades. É verdade, por exemplo, que nunca se desenvolveu no Brasil uma política eficiente de saúde preventiva e sabemos todos que em matéria de doenças a prevenção é e será sempre o melhor remédio.
A dengue só se transformou nesse perigo iminente por falta de atenção. Principalmente a nossa. Não custava e não custa nada manter os vasos sem água nos pratos (a beleza das plantas, das quais tiramos vida, não pode significar dor e morte), limpar nossos quintais, não deixar água empoçada.
Mas a maioria da população não faz isso porque, por falta de cuidado e excesso de otimismo, acha que o mosquito vai “voar e picar em outra freguesia”.
Só nos mancamos diante de ameaças e punições. Parece que gostamos de levar bronca, de ameaças que nos encostem na parede. Estranho, muito estranho: o ser humano só reage quando está encurralado. Seria bem mais fácil se cada um fizesse pelo menos o mínimo.
O maior bem que possuímos é o de poder cuidar de nós mesmos, de reagir a tudo que possa de alguma forma nos fazer mal. Não adianta apenas protestar, reclamar, ficar indignado. É preciso agir. No caso da dengue a ação (muito simples, repito) se faz urgente.
Todo mundo deve lembrar do anúncio de uma marca de amortecedores de carro que mostrava um terrível acidente em uma estrada e alertava para a necessidade de usar no carros amortecedores de boa qualidade. Na época, lembro bem, todo mundo reagiu contra a agressividade do anúncio, mas só assim, tenho certeza, as pessoas se conscientizaram da necessidade de alguns importantes cuidados. Esses mesmos cuidados se fazem fundamentais (e cada vez mais) agora para evitar que a dengue nos atormente outra vez.
É bom lembrar que diminuir a incidência de casos de dengue é uma tarefa (eu diria até missão) que cabe a nós, embora isso não seja uma desculpa para não cobrarmos ações urgentes do governo em relação à saúde. Cuba conseguiu acabar com a dengue. Nós também, podemos. Ou será que estamos esperando uma tapa na cara, com anúncios que nos mostrem as pessoas agonizando nos leitos (quando há leitos) dos hospitais por conta da picada de um mosquito que só está vencendo essa guerra porque nós, vítimas, estamos permitindo.
Pense bem: não faz sentido deixar de cumprir tarefas simples e ficar esperando que a televisão nos mostre a cruel realidade de gente sofrendo nos hospitais por conta da dengue. As pessoas estão morrendo ao nosso lado. Não adianta fingir que não estamos vendo e que não termos nada com isso. Essa culpa (já nos sentimos culpados com tantas coisas) também é nossa. Vamos “picar” o mosquito e evitar que ele se acomode nos nossos vasos (as plantas que nos alimentam de vida não podem significar perigo de morte), na nossa sujeira, na água que move o planeta, mas que empoçada só serve para alimentar o mosquito, as doenças, a dengue. Só nós podemos acabar com a dengue.
* E com a culpa

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