Sempre que um cantor de sucesso nos
deixa é normal dizer que a morte calou sua voz. É lugar comum e não é verdade:
cantores deixam suas vozes eternizadas em discos, em DVDs e na memória do público
que continua e continuará cantando a vida de quem se foi cantando. Miltinho é
um desses artistas de quem se ouvirá a voz eternamente. Não chegou a ser um
sucesso estupendo e meteórico, mas deixou para a Música Popular Brasileira um jeito
diferente e pessoal de cantar com uma divisão musical que chamou atenção ainda
como crooner como o conhecia na boate Drink em Copacabana, no Rio. Ninguém dividiu
melhor a melodia do que Miltinho: não tinha aquela voz potente exigida em outros
tempos dos cantores, mas tinha uma maneira sincopada de cantar que era (é)
alegria para os nossos hoje tão sacrificados musicalmente ouvidos. Foi Miltinho
sem dúvida quem valorizou o sincopado e fez escola de muitos seguidores entre
os quais Zeca Pagodinho.Não se pode dizer que Miltinho despediu-se antes da hora
(ninguém se despede antes), mas sua partida não deixa de ser um benefício para
ele e para os que o admiravam. Aos 86 anos Miltinho sofria do Mal de Alzheimer
e felizmente não precisou continuar convivendo com a terrível doença que debilita
tantos idosos. Até na hora de parir Miltinho dividiu a vida com um sincopado que foi a marca registrada de sua carreira
e é hoje sem dúvida uma das mais importantes marcas na história da nossa música.
(Eli Halfoun)
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
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