quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Condenação do SBT por declarações polêmicas de apresentadora pode facilitar a volta da censura


As declarações da jornalista Rachel Sheherazade feitas no “Jornal do SBT” quando “compreendeu” a reação de justiceiros que amarraram um menor em um poste no Rio repercutiram bastante na época e já tinham praticamente caído no esquecimento ganharam e ganharão nova repercussão e discussão a partir do processo movido pelo Ministério Público Federal contra o SBT. Funciona mais ou menos como o desmentido que na maioria das vezes repercute mais do que a notícia original. Desmentido é jogar lenha na fogueira, o que de certa forma acontece agora com o processo contra o  SBT que se condenado terá de pagar mais de R$ 500 mil de multa por “dano moral coletivo”. A decisão do MP ainda não foi comunicada ao SBT que é claro deverá recorrer. No processo o MP diz que o comentário da apresentadora “estimulou a ação de justiceiros e violou o princípio maior da dignidade humana”.
 Fazer justiça com as próprias mãos é mesmo condenável, mas não me parece que em nenhum momento a apresentadora Rachel Sheherazade e muito menos o SBT quisessem incentivar esse tipo de ação. O comentário de Rachel apenas refletiu o pensamento de muita gente que cansada de ser vítima da bandidagem precisa defender-se. Precisa sim, mas nunca fazendo justiça por conta própria que na verdade não é justiça: é vingança mesquinha e covarde como a praticada pelos bandidos O MP também cobra do governo “mais fiscalização sobre as TVs que detêm concessões públicas”.
Sabemos que em hipótese alguma o respeitável e competente Ministério Público Federal é favorável a qualquer tipo de cerceamento, mas esse tipo de fiscalização pode acabar incentivando a volta da censura que não cabe mais no país que tanto lutou contra ela. Fica uma pergunta quem vai fiscalizar os mal feitos e exageros do governo?  

O fato é que para quem nem lembrava mais do lamentável episódio, esse processo coloca novamente na memória um fato que não passou batido na época e que não deveria ganhar novamente uma desnecessária repercussão. Qualquer que seja a decisão judicial é para ser cumprida, o que, aliás, não é comum nesse país da impunidade, mas não vejo como a apresentadora que já de desculpou várias vezes mesmo sem ter retirado o que          disse possa voltar a público para retratar-se. Se ela falou demais, falou e agora jogar mais lenha na fogueira só servirá para colocar em discussão o medo que a população tem de criminosos que não podem ficar nas mãos de justiceiros, mas também não podem ficar impunes. Resultado: a lamentável “justiça pelas próprias mãos” volta a ficar no topo das discussões e volta a embaralhar a cabeça da amedrontada população. Melhor seria se o superado e praticamente esquecido comentário fosse arquivado e o tema voltasse a ser discutido sim, mas para buscar uma solução sem quer haja castigos e principalmente o cerceamento de opiniões. Esse tipo de censura o Brasil não quer mais. Nem precisa porque vive em um estado absolutamente democrático. (Eli Halfoun)

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