Quando ela abriu a porta da cobertura em
que mora e trabalha o sol que , naquele fim de tarde, já ameaçava
esconder-se voltou a brilhar intensamente naqueles olhos de um doce mel
esverdeado. Era como se o sol , a vida e, portanto, a esperança voltassem a
sorrir através daquele sorriso para mim.
Naquela tarde entendi muitas coisas. Tinham sido dias difíceis para mim
e até reencontrar aquele sorriso eu parecia um morto-vivo, mais morto do que
vivo. Entendi finalmente que é impossível viver sem esperança e principalmente
sem amor. Com egoísmo eu era o objeto da minha própria preocupação, mas isso
não me impediu de, de repente, refletir
no plural e pensar no coletivo, o que anda raro nesse mundo em que cada um só
pensa, quase sempre, no seu próprio bem
estar, mesmo que para isso tenha que esquecer que a vida só tem graça porque
tem outras vidas a cercá-la. Ficou e continua forte em mim a certeza de que o
brasileiro tem feito da esperança o seu
principal alimento, a sua fonte de, mesmo inconscientemente, saber e viver.
Não existe “tempo ruim” para o brasileiro sempre sorridente -
sorrindo aquele sorriso que diz “amanhã
é outro dia e as coisas melhoram”. Reparem no povo que anda apressado nas ruas,
apertado nos trens e nos ônibus, humilhado nos supermercados onde o máximo que
consegue ( quando consegue...) comprar é a cesta básica, que às vezes inclui (
até quando?) inclusive um franguinho.
mas
Repare como esse povo está, mesmo
faminto, sempre sorrindo e cantando - cantando o canto da esperança. O brasileiro nunca é um morto
vivo. Está cada vez mais vivo, cada vez mais inteiro, cada vez mais feliz,
mesmo que ninguém contribua para essa felicidade. O brasileiro tem a
fantástica capacidade de buscar a
felicidade que cada um tem dentro de si.
E é essa, acreditem, a felicidade verdadeira, a única inteiramente inteira.
Procure encontrar a sua para descobrir que ela existe.
Essa reflexão de apenas alguns
segundos, mas que deveria estar presente em todos nós todo o tempo, percorreu
minha cabeça e meu coração naquele fim de tarde quando covardemente eu já
acreditava que morrer era melhor. Burrice: morrer é fácil. Viver intensa e
verdadeiramente é que é o difícil desafio de ser e não simplesmente de passar
pela vida apenas contando tempo, como muita gente costuma fazer porque ainda
não descobriu que sobreviver, ou seja “enganar” a morte todo o tempo, é
diferente, muito diferente do que viver.
Viver é ir a luta, perder o medo e jamais deixar de ter, como a maioria dos
sacrificados brasileiros, esperança e amor.
Naquela tarde em que o sol, voltou a
brilhar e para mim ainda brilha, mesmo
na escuridão da noite, foi possível descobrir também que não existe vida sem
amor. O amor nas várias formas de amor que a vida tem pra nos dar tem que estar
presente em tudo e em todos. É através dele que renasce a cada dia, a vida, a
esperança, a certeza de que o futuro pode ser ( e será) sempre melhor.
Descubra o amor, a esperança , a vida
no sorriso dos outros. Como, naquela tarde,
eu descobri, espero que definitivamente,
naquela mulher extraordinária, nesse ser humano admirável. Procure
direitinho que tem sempre alguém assim ao seu lado. Naquela tarde ela me
devolveu a vida e me mostrou que o amor e a esperança, que andam lado a lado,
são fundamentais. Foi ( e é ) como se ela me devolvesse o futuro, o amor, a
vida.
Esperança, vida, amor e futuro estão dentro de você, mas para descobrir
isso é preciso, às vezes, olhar para a
frente e para os lados. Talvez tudo o que você procura esteja no sorriso que
sorri ao seu lado e que, por medo, você não percebe. Perceba e viva.
* Viver
é, mesmo nos momentos mais difíceis, muito bom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário