quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Voltar para o futuro

                        

       Quando ela abriu a porta da cobertura em  que mora e trabalha o sol que , naquele fim de tarde, já ameaçava esconder-se voltou a brilhar intensamente naqueles olhos de um doce mel esverdeado. Era como se o sol , a vida e, portanto, a esperança voltassem a sorrir através daquele sorriso para mim.
      Naquela tarde entendi muitas coisas. Tinham sido dias difíceis para mim e até reencontrar aquele sorriso eu parecia um morto-vivo, mais morto do que vivo. Entendi finalmente que é impossível viver sem esperança e principalmente sem amor. Com egoísmo eu era o objeto da minha própria preocupação, mas isso não me impediu de, de repente,  refletir no plural e pensar no coletivo, o que anda raro nesse mundo em que cada um só pensa,  quase sempre, no seu próprio bem estar, mesmo que para isso tenha que esquecer que a vida só tem graça porque tem outras vidas a cercá-la. Ficou e continua forte em mim a certeza de que o brasileiro  tem feito da esperança o seu principal alimento, a sua fonte de, mesmo inconscientemente, saber e  viver.
   Não existe “tempo ruim” para o brasileiro sempre sorridente - sorrindo  aquele sorriso que diz “amanhã é outro dia e as coisas melhoram”. Reparem no povo que anda apressado nas ruas, apertado nos trens e nos ônibus, humilhado nos supermercados onde o máximo que consegue ( quando consegue...) comprar é a cesta básica, que às vezes inclui ( até quando?) inclusive um  franguinho. mas
     Repare como esse povo está, mesmo  faminto, sempre sorrindo e cantando - cantando o canto  da esperança. O brasileiro nunca é um morto vivo. Está cada vez mais vivo, cada vez mais inteiro, cada vez mais feliz, mesmo que ninguém contribua para essa felicidade. O brasileiro tem a fantástica  capacidade de buscar a felicidade que cada um tem dentro  de si. E é essa, acreditem, a felicidade verdadeira, a única inteiramente inteira. Procure encontrar a sua para descobrir que ela existe.
                Essa reflexão de apenas alguns segundos, mas que deveria estar presente em todos nós todo o tempo, percorreu minha cabeça e meu coração naquele fim de tarde quando covardemente eu já acreditava que morrer era melhor. Burrice: morrer é fácil. Viver intensa e verdadeiramente é que é o difícil desafio de ser e não simplesmente de passar pela vida apenas contando tempo, como muita gente costuma fazer porque ainda não descobriu que sobreviver, ou seja “enganar” a morte todo o tempo, é diferente, muito diferente do que  viver. Viver é ir a luta, perder o medo e jamais deixar de ter, como a maioria dos sacrificados brasileiros, esperança e amor.
         Naquela tarde em que o sol, voltou a brilhar e para mim  ainda brilha, mesmo na escuridão da noite, foi possível descobrir também que não existe vida sem amor. O amor nas várias formas de amor que a vida tem pra nos dar tem que estar presente em tudo e em todos. É através dele que renasce a cada dia, a vida, a esperança, a certeza de que o futuro pode ser ( e será) sempre melhor.
          Descubra o amor, a esperança , a vida no sorriso dos outros. Como, naquela tarde,  eu descobri, espero que definitivamente,  naquela mulher extraordinária, nesse ser humano admirável. Procure direitinho que tem sempre alguém assim ao seu lado. Naquela tarde ela me devolveu a vida e me mostrou que o amor e a esperança, que andam lado a lado, são fundamentais. Foi ( e é ) como se ela me devolvesse o futuro, o amor, a vida.
     Esperança, vida, amor e futuro estão dentro de você, mas para descobrir isso é preciso, às  vezes, olhar para a frente e para os lados. Talvez tudo o que você procura esteja no sorriso que sorri ao seu lado e que, por medo, você não percebe. Perceba e viva.

 * Viver é, mesmo nos momentos mais difíceis, muito bom.

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