segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Saber ouvir


É a televisão ocupando cada vez mais espaço. É a internet nos afastando da palavra falada para substituí-la pela escrita (e escrita na maioria das vezes de forma errada na tentativa de encontrar um novo e simplificado idioma, que nos leva a substituir o porquê por pq e por aí vai). A época em que as famílias reuniam-se para conversar, geralmente na hora do jantar, ficou para trás. Os horários não coincidem e quando, por acaso, todos estão reunidos a televisão atrai as atenções. O resultado não poderia ser outro: estamos com uma cada vez mais com maior necessidade de falar, de conversar, de dizer. A conseqüência é que estamos deixando de ouvir.
Cada vez que um grupo de pessoas se reúne um quer falar mais do que o outro e geralmente ninguém consegue completar uma frase: é interrompido no meio da fala não por falta de educação (também é), mas pela extrema necessidade de falar, como se aquela fosse a última oportunidade. Muitas vezes parece que é mesmo: quando a reunião de amigos (pode ser simplesmente um diálogo) termina a consciência é de que voltaremos a ficar calados diante da televisão ou da internet. Calados diante da vida.
Falar é fundamental para raciocinar, para expor experiências, para emitir opiniões. Para viver. A diferença é que sair falando só por falar não acrescenta absolutamente nada, até porque muitas vezes a necessidade de simplesmente falar nem nos deixa perceber o que estamos falando, mas não estamos dizendo nada.
Evidente que em nenhuma situação ninguém deve “entrar mudo e sair calado”, mas falando demais perdemos a extrema e fundamental necessidade de ouvir. Só nos permitimos falar e na maioria das vezes “falar por falar". Estamos desaprendendo a ouvir, o que nos leva a apenas falar sem muitas vezes dizer nada. É preciso (e com urgência) conscientizar-se da necessidade de reaprender a ouvir. Ouvir ainda é a melhor maneira de aprender. Só ouvindo poderemos falar, ensinar e viver. Afinal a vida é um conjunto de emoções e experiências nossas e de todos, sejam crianças, jovens ou adultos. Todos sempre têm algo a oferecer e ensinar. Basta que os deixemos falar e nos permitamos ouvir. (Eli Halfoun)


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