O brasileiro é um mágico. Faz mágica para
sobreviver com um irrisório salário mínimo. Faz mágica para vencer o
desemprego. Faz mágica para alimentar-se adequada ou, quase sempre, inadequadamente.
Faz mágica para mostrar-se alegre e otimista, mesmo quando não há nenhum motivo
para isso. Faz mágica para continuar tendo esperança porque na maioria das
vezes é só o que lhe resta. O brasileiro é um povo mágico e nem os mais
perfeitos e respeitados ilusionistas do mundo são tão bons mágicos quanto
qualquer um de nós. O brasileiro é o rei da ilusão. Vive em função literalmente
em função do próprio ilusionismo.
Quando se anda pelas
ruas é fácil e surpreendente descobrir todo o tipo de mágica, mas uma das que
certamente mais chama atenção é a mágica dos camelôs que fazem surgir do nada
os mais diversos produtos. A gente sai de casa com uma manhã ensolarada e, de
repente, o tempo muda e nos deixa debaixo d’água. Imediatamente, como num
perfeito passe de mágica, os camelôs que vendiam pilhas, radinhos, lupas,
isqueiros e os mais diversos (às vezes até estranhos) produtos, passam a
oferecer guarda-chuvas que nunca se sabe de onde milagrosamente aparecem e
muito menos em que local ficam escondidos esperando a hora de entrar em ação.
Dá até a impressão de, que, como a chuva, eles caem do céu.
Essa magia urbana não acontece só
quando chove. A magia dos camelôs se faz presente a todo momento, a cada
necessidade imposta pelo, digamos, mercado consumidor. Dependendo da oferta de
ocasião qualquer produto aparece sem que imaginemos de onde. No fundo é a
necessidade de vender para sobreviver o grande segredo dessa mágica. Um truque
perfeito Mas a mágica maior dos camelôs é financeira (mágica que aliás, nenhum
ministro da Fazenda é capaz de fazer) que é a de conseguir vender tudo ou quase
tudo a um real. Por conta dos camelôs esse passa a ser, em qualquer esquina, o
país irreal do um real. Com um real compra-se um diversificado tipo de
produtos, como se um real fosse,v isoladamente, realmente dinheiro.De real em
real pode-se até chegar alguma coisa. Mas com apenas um real só se chega ao
camelô, aos produtos nada confiáveis. Ao nada.
É inexplicavelmente encantadora a
mágica (mágica inclusive para escapar da fiscalização, como se fossem bandidos
e não trabalhadores sem qualquer outra alternativa) dos camelôs que fazem de
nossas ruas o mais popular e até encantador shopping do mundo a céu aberto.
Essa mágica urbana e diária é a demonstração maior de que o brasileiro é sempre
um mágico, capaz de dar um jeitinho (aquele jeitinho que é característica
brasileiríssima) na hora de enfrentar as necessidades impostas pela vida. Pela
absoluta falta de perspectivas. É até aceitável e digno de elogio o poder
criativo do brasileiro de dar sempre “um jeitinho”.Mas o que precisamos mesmo é
que esse país não precise viver de mágica e tome jeito de verdade.
* Definitivamente (Eli Halfoun)
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