terça-feira, 20 de março de 2012

CRÔNICA ----- A bola da vida

A constante presença de muitos comentaristas (cada um “vendo” a partida de um jeito) e locutores, que não se limitam a transmitir o jogo, durante a Copa do Mundo acaba nos levando a uma reflexão sobre o futebol que mesmo tendo regas definidas, é o mais confuso e mais imprevisível esporte de todos os que conhecemos. Imprevisível principalmente na reação da torcida
Desde o tempo em que atuei como rpórter esportivo muita coisa sempre me pareceu estranha e confusa. Continua sendo. O futebol nos mostra a cada partida uma incrível, e inesgotável e mágica (sem quadrado) coreografia que faz mais belo o espetáculo que tem sempre a bola como solista. A bola parece a mulher amada. É atrás dela que todos correm, inclusive nós, torcedores, mesmo quando estamos sentados em uma confortável poltrona para ver aquele que é em sua fantástica coreografia o espetáculo mais variado e surpreendente do mundo.
A seleção brasileira está em campo vencendo por dois gols e os comentaristas, assim como os torcedores, reclamam e dizem que a partida é difícil, nervosa e que a qualquer momento a sempre inesperada coreografia dos bailarinos de chuteira, pode mudar tudo. Pode sim: essa falta de certeza que mesmo um resultado tranqüilo não consegue nos dar é que faz o futebol ser fascinante. O futebol tem o poder de nos deixar todo o tempo nervosos, inseguros, amedrontados, insatisfeitos, com amor e ódio misturados a cada chute enquanto a bola rola e é freneticamente perseguida em campo e chutada por pés que nem lá estão.
O futebol só é apaixonante justamente porque mexe antes, durante e depois do jogo, com a nossa emoção. Tem de ser assim: não teria a menor graça se soubéssemos antecipadamente o resultado e se todos os jogos fossem a moleza que o torcedor sempre espera para seu time. É fascinante o fato de qualquer resultado ser possível em uma partida de futebol. Mesmo quando se tem num mesmo time os maiores jogadores do mundo, não é possível driblar com facilidade a emoção, a angústia e a incerteza. É na incerteza que está a maravilha maior do correr atrás da bola.
Ao mesmo tempo em que um gol nos provoca um prazer indescritível, uma partida de futebol nos deixa tensos. Talvez seja o poder relaxar, ao final, com uma vitória é que faça o futebol ser tão absurdamente apaixonante, tão intenso e tão emocionante. Se faltarem apenas dez minutos para o final do jogo e o time de nossa preferência estiver ganhando de cinco a zero ainda assim continuaremos tensos até que o apito final nos permita relaxar. Relaxar só até a próxima partida: afinal, a única verdade que existe no futebol é que a bola rola em campo. O resto é incerteza o tempo todo e a incerteza é sempre nervosa, sofrida, apaixonada, radical.
É assim também o jogo da vida que se assemelha em quase tudo a uma partida de futebol: no campo da vida também não sabemos se a vitória virá com certeza e se não temos que correr atrás da bola precisamos correr, com passes precisos, atrás de “gols” que nos permitam vibrar de felicidade e relaxar ao final de cada “jogo”, de cada dia. No dia seguinte, como na próxima partida, o gol da vitória pode nos escapar. O craque do jogo de hoje pode não repetir a mesma atuação, no campo de jogo ou no jogo da vida, amanhã. É por isso que devemos estar a cada dia mais preparados para correr atrás da bola do tempo.Da bola da vida. (Eli Halfoun)

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