Alto, forte, bonitão, bronzeado pelo de praia (que frequentava diariamente) e bem sucedido (dono de alguns imóveis que lhe garantiam de aluguel quase dez mil reais por mês, o que o fazia orgulhar-se de não precisar mais trabalhar), Dinho era o chamado pinto doce da rua Miguel Lemos, em Copacabana, no Rio, na qual foi praticamente criado. Morava ali desde os 10 anos de idade e hoje, aos 40, era uma espécie de prefeitinho da rua. Conhecia todo mundo , mas eram as mulheres, mesmo as casadas, que formavam seu fã-clube. Já tinha, transado com a metade das mulheres da Miguel Lemos, mas, solteirão convicto, não queria compromisso com ninguém:
-Mulher dá muito trabalho, pega no pé da gente, acaba com a liberdade, é, enfim, um saco - dizia, orgulhoso, para os amigos do bar (era bom de copo) e arrematava:
- Vocês estão aqui bebendo, mas daqui a pouco têm que voltar pra casa porque, se não voltarem, apanham da dona encrenca. Mulher é muito bom para uma trepada, duas no máximo, e depois tchau...
Ronaldo (o apelido Dinho vinha desde a infância, porque a avó materna, que lhe deixou todos os apartamentos como herança, só o chamava de Ronaldinho) orgulhava-se de sua solteirice e era desses machistas que fazem questão de contar em detalhes as noitadas na cama, como se mulheres fossem simples objetos sexuais. Dinho não acreditava em sexo com amor:
- Isso é babaquice - dizia irritado para aqueles que defendiam a tese de que sexo e amor andam juntos. Orgulhoso, completava:
- Eu sou mesmo é uma máquina de transar e isso é ótimo
Jamais tinha se apaixonado. Com medo de se envolver, não se dava essa oportunidade, e só para sacanear os amigos de copo contava, diariamente, uma nova aventura. Inventava muito, sabiam todos que, mesmo assim, fingiam acreditar. E provocavam:
- Qual foi a última, Dinho? Conta aí, vai...
Ele adorava e contava:
-Tem uma mulher que eu estava paquerando há meses e que ontem acabou conhecendo a minha gostosura. Sabem aquela morenaça que mora em frente ao meu prédio? Pois é: todo dia quando eu chegava em casa ficava olhando pela janela, e ela, mesmo sabendo que eu a estava olhando, tirava a roupa. É como se fizesse um strip-tease exclusivo para mim. Sem roupa, ela ficava desfilando de um lado para o outro. Ontem eu não resisti e também arranquei fora a minha bermuda, deixando aparecer o meu membro em riste duro. Pegava nele e balançava o saco como se estivesse oferecendo para ela. Quando, mesmo de longe, percebi que ela estava aflita, fiz um sinal perguntando se ele não queria vir até o meu apartamento. Ela fez um sinal de “vem você”, e três minutos depois lá estava eu...
Ficava excitadíssimo, o Dinho, quando contava mais uma de suas conquistas machistas. Fazia suspense e completava:
- Quando entrei no apartamento, ela já estava nua. Mas, assim mesmo, fiz questão de pedir uma cerveja e criar um clima - disse, para em seguida entrar em detalhes:
: - Eu estava sentado no tapete branco e aveludado da sala, e a Betty sentou, nuazinha, ao meu lado. Engoli o último copo de cerveja de uma só vez, e ali mesmo na sala comecei a beijá-la e a roçar minha mão nos pentelhos de sua vagina que, em seguida, comi
sem parar. Dei umas duas e depois fui embora. É um mulherão, mas agora não quero mais saber. Já comi, e ela entrou para o meu caderninho. Deve ser a número mil.
Dinho tinha lá os seus motivos para tratar as mulheres como objeto, para odiá-las até. Aos vinte e poucos anos tinha conhecido, ali mesmo na rua, Daniela, de quem acabou ficando noivo. O romance durou quatro anos e Dinho estava tão apaixonado que insistia, embora Daniela, não quisesse, em casar. Tanto insistiu, que Daniela acabou concordando, e ele, feliz como nunca, comentava com os amigos:
- Agora eu vou mudar de vida, chega de galinhagem...
O casamento não aconteceu porque, dias antes, Dinho flagrou Daniela trepando com um amigo seu e ainda por cima em seu apartamento, do qual ela tinha a chave. Foi um escândalo. Difícil mesmo foi explicar para os amigos, mas Dinho arranjou uma desculpa:
- Eu não nasci para esse negócio de casamento. Agora tá tudo bom, mas daqui a pouco ela vai querer mandar em mim e eu vou ficar babacamente prisioneiro, como vocês. É melhor pular fora antes que a desgraça aconteça.
Desde esse dia, Dinho passou a frequentar menos os bares da rua. Para fugir do noivado desfeito ia a bares distantes e só queria mesmo era sair com as prostitutas. Justificava:
- Puta não se envolve, não deixa me envolver, e se amanhã passar por mim na rua finge que nem me conhece. Além do mais, eu posso comer uma diferente por dia, que, afinal, só servem para isso mesmo.
De vez em quando, fazia discursos inflamados contra as mulheres que são umas filhas das putas e só servem para trair os homens. Só de lembrar o chifre que tinha levado da Daniela ficava possesso e gritava :
- Não tem mulher fiel nesse mundo. Até puta trai a gente. Todos vocês já foram corneados - dizia, como se estivesse apontando para todos os homens no bar.
Desse dia em diante, o revoltado Dinho saiu à cata de uma mulher fiel. Convencido de que não existia mulher, fiel acabou comprando, numa sex shop, uma mulher inflável. Pagou feliz, pensando, essa sim vai ser só minha e vai fazer tudo e só o que eu quiser. Na mesma noite, deu a primeira transada com a mulher inflável, que batizou de Samantha. Adorou: Samantha estava sob seu total domínio: não falava, não reclamava, fazia tudo o que ele quisesse, transava na hora que ele bem entendesse e, o que era melhor, não poderia traí-lo. Certo de que tinha enfim arranjado a mulher ideal (aquela que ele tinha na cabeça), Dinho voltou a frequentar, com a assiduidade anterior, os bares da Miguel Lemos, e contava para os amigos que tinha encontrado a mulher de seus sonhos.
A boneca não tinha vida e, portanto nem expressão, e muito menos emoção, mas ele descrevia Samantha para os amigos como se fosse uma deusa. Dessa vez estava, sim, apaixonado e nem precisava casar. Os amigos começaram a ficar curiosos e a perguntar tudo, tudinho sobre essa deusa. Pela primeira vez em sua vida, Dinho, que da boca pra fora se dizia um liberal, morria de ciúmes, mesmo consciente de que, com Samantha, não seria traído. Mas a fama de galinhão falava mais alto e Dinho continuava paquerando, só para se mostrar na frente dos amigos, as mulheres da rua, até que conheceu Lucy, um banquete louro para 400 talheres.
A paquera deu certo, e no dia seguinte, lá estavam Dinho e Lucy em seu apartamento. A Samantha vai entender, pensava Dinho, enquanto beijava os olhos, os ouvidos, a boca de Lucy que, ao contrário de Samantha, reagia com emoção. No quarto, os corpos de Dinho e Lucy se entrelaçaram. Ele a beijava inteira e ela retribuía. Gemiam os dois, mas Dinho estava com a consciência culpada e não sentia o mesmo prazer das outras noites. O membro de Dinho estava quase explodindo de tão rígido. Lucy, excitadíssima, oferecia tudo. qquando achou que Dinho ia, enfim, aceitar ele jogou o braço para baixo da cama, puxou Samantha e foi nela, que permanecia como sempre,imóvel, que enfiou seu membro e jorrou imediatamente uma grande quantidade.
Sentada na beira da cama, Lucy não entendeu nada. Achou que valia menos do que um objeto. Sentiu-se um lixo de carne e osso, enquanto Dinho dormia abraçadinho e feliz com a impassível Samantha. (Eli Halfoun)
sábado, 31 de março de 2012
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