Acabou o tempo em que o jornaleiro, hoje um amigo que a gente encontra em cada esquina (sabe tudo o que acontece na rua, conhece todas as pessoas e muitas vezes é um perfeito confidente até na hora de “jogar conversa fora”) era apenas um, digamos, distribuidor de notícias quando se limitava a vender jornais e revistas. Banca de jornal deixou de ser apenas uma vitrine de jornais e revistas nesses tempos de uma cada vez maior competição editorial e de uma infinita busca de alternativas para faturar mais e viver melhor.
Agora as bancas, transformam-se em mini-shoppings onde já se pode comprar de quase tudo. Se é verdade que assim o jornaleiro oferece mais serviços aos clientes-amigos, é verdade também que essa é uma prova de que o jornalismo impresso perdeu, até por causa da cada vez mais jornalística televisão e da internet, muitos consumidores. A competição acabou tirando, de certa forma, a importância do jornalismo como produto de venda.
O jornalismo brasileiro progrediu e melhorou muito nos últimos anos, mas isso parece não importar muito e são as próprias editoras que nos mostram isso: vender jornal ou revista independe hoje só da qualidade do produto: a verdade é que, com raras exceções, ninguém compra mais um jornal ou uma revista só por sua qualidade editorial. Qualquer produto precisa ter sempre um brinde para atrair o leitor e dar a ilusão de que ele está ganhando alguma coisa e que está “levando vantagem”, o que não é verdade: quando o leitor compra uma revista que oferece como “brinde” um filme ou um CD o que ele está comprando mesmo é o filme ou o CD (paga bem por isso) e levando a revista de brinde. Resultado: as bancas, que antes só tinham jornais e revistas, expõe hoje (haja espaço) um sem número de fitas, de CDs e de outros brindes, transformando-se numa colorida vitrine de atrações na qual a atração menos importante é o jornal ou a revista, ou seja, a notícia e a qualidade do produto.
A competição (é preciso vender cada vez mais para compensar os investimentos gráficos) está de certa forma, acabando com a época romântica do jornalismo em que os repórteres corriam atrás das melhores e mais criativas reportagens e das mais quentes notícias. Hoje é o dono do jornal quem corre atrás de um novo brinde para conquistar seu “leitor” e aumentar a venda de seu produto, mesmo que muitas vezes o produto, nem tenha qualidade para isso. Tudo bem que vale (desde que se faça com honestidade) quase tudo na competição capitalista e oferecer produtos alternativos não deixa de ser um atrativo para o consumidor. Mas é preciso pensar - e pensar muito - no perigo que essa exagerada oferta de brindes representa para as empresas jornalísticas e, em consequência, para o jornalismo. No dia em que não houver nenhum brinde para oferecer o encalhe será inevitável.
Vender qualidade e competência jornalística ainda é a melhor e mais adequada maneira de manter a qualidade dos produtos e dos leitores. A boa venda conquistada na maioria das vezes por causa da oferta de brindes não significa boa tiragem. É isso sim uma mentiragem.
* E em jornalismo a mentira é sempre um desastre de graves consequências.
sábado, 3 de abril de 2010
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