Eu não tenho que me defender dos bandidos. Como todo o cidadão que mora nesse violento estado tenho sim que tomar precauções para evitar ser mais uma vítima da violência. Minha proteção, assim como a de todos os cidadão, está nas mãos da polícia e ela sim tem que estar armada. De preferências muito melhor do que estão os bandidos.
O dia a dia nos tem mostrado que nas mãos de quem não sabe usá-la a arma é um brinquedo perigoso, muito perigoso. E eu não quero arma nem de brinquedo nas mãos de nenhuma das minhas crianças. Não posso fazê-las crescer sem perceber a triste realidade da existência de armas mas posso, sim, evitar que cresçam achando que o revólver é a salvação. Até de brincadeira a arma, qualquer arma, pode ser mortal.
Todo dia me recordo – e ainda com um imenso pavor – da noite em que uma brincadeira entre amigos quase me alvejou com um tiro certeiro e que certamente seria fatal. Em seu belo apartamento no Leblon um querido amigo fez questão de me mostrar o revólver novo de sua inútil coleção de armas. Era, dizia com orgulho, uma arma maravilhosa (como se alguma arma pudesse ser maravilhosa)… Colocou o revólver na minha mão garantindo que estava sem bala. Apavorado (até arma de brinquedo me assusta e essa não era...) devolvi imediatamente o revólver e meu amigo insistiu: “está sem balas, pode puxar o gatilho”. Não puxei, mas ele, apontando primeiro para meu peito a menos de um metro de distância, e depois para a imensa e fechada janela do apartamento, insistiu: “está sem bala, quer ver” e puxou o gatilho. Não estava. O vidro da janela se espatifou pelo chão, meu amigo, branco como a morte, não sabia o que dizer e nem eu iria ouvir de tão apavorado que estava. A brincadeira poderia ter se transformado em tragédia. Como sempre acontece quando uma arma entra na “conversa”.
Não vamos discutir aqui o democrático jogo do sim e do não. Minha opinião será dada nas hora certa e na urna. Não será uma opinião de decisão política, mas sim uma opinião humana,. Que é a que mais vale nesse e em todos os momentos. Ouço - e ouço com atenção - todos os argumentos em relação ao porte de arma, mas estou convencido que uma arma não me livrará de nenhum bandido. Pelo contrário. Quem tem que me livrar dos bandidos é a polícia – essa assim armada até os dentes.
Mesmo nas inocentes brincadeiras de criança aprendemos que armas são perigosas e até assim brincamos de matar uns aos outros sem perceber que é essa a realidade e a finalidade da arma. Arma foi feita para matar.
* Não para viver
terça-feira, 27 de abril de 2010
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