domingo, 25 de abril de 2010

CRÔNICA ----- Maioria menor

O ano está chegando à metade e pelo menos uma coisa continua a mesma: nas ruas, nos botequins, em casa, no trabalho, seja lá aonde for o assunto principal de todas as conversas ainda é a violência que nos faz a cada dia mais reféns e que não nos dá nenhuma esperança de que acabará, ou pelo menos diminuirá com a chegada de um novo ano. Pelo contrário: a tendência é de um aumento cada vez apavorante, o que nos mostra que a violência não está no fim. Mas nós sim se não tomarmos cuidado.
Você entra num táxi e de cara o também apavorado motorista puxa o assunto para contar que em tais e tais ruas os assaltos se repetem. Você liga o rádio ou a televisão e lá está a violência em notícias que ocupam cada vez maior espaço no mais nobre dos horários. A violência ganhou uma presença tão intensa (até porque ela, a violência, também é intensa) na mídia que ver ouvir ou ler o noticiário nos deixa mais assustados ainda. Todo mundo fala em violência (cada um tem, certamente, um ou mais casos para contar), mas pelo menos já se fala em alternativas para acabar com o maldito esse sufoco que ainda é andar nas ruas, ir ao banco, sair a noite para passear e até ficar em casa.
Quando crianças nos ensinam que a maioria sempre vence, que a maioria é mais poderosa. Como tantas outras essa verdade também virou uma grande mentira: não são dados oficiais, mas é possível calcular que o Rio deve ter milhares de traficantes. Pois é essa absurda minoria que está sufocando a maioria dos habitantes: somos agora uma maioria que se fez estranhamente menor e que nem tem mais como reagir ou acreditar em alguma coisa.
A violência está em todas as partes, em todas as esquinas, em todos os medos. O medo da violência pode ser mais cruel do que a própria violência já que nos modifica o comportamento, nos limita sonhos, faz menos intensas e felizes nossas vidas. Há dias um amigo foi assaltado no ainda claro final da tarde, na movimentada Copacabana. Ia buscar o filho no colégio e quase não chega. Podia ter morrido e confessa que os mais cruéis momentos do assalto foi lembrar no filho que o estava esperando e que poderia continuar esperando para sempre.
Diante de tudo o que acontece é inevitável que a violência seja o principal foco de qualquer conversa. As pessoas falam - e falam demais- – numa tentativa de livrar-se do medo, de desabafar com um amigo, um parente e até uma pessoa que mal conhece. Não é falta de assunto (assuntos não faltam), mas é que, especialmente nesses momentos de meio de ano, de ainda novas esperanças de futuro, de pensar e desejar de verdade e intensamente a paz, a violência ainda impera e toma conta de tudo. Falar é só o que nos resta.
* Mesmo que a esperança de ver a violência diminui seja cada vez menor

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