segunda-feira, 1 de março de 2010

Crônica - PÉS DE ANJO

Os homens têm um grande fetiche em torno dos pés femininos, até porque pés bem cuidados são fundamentais no complemento da beleza de uma mulher. Pé feio e mal cuidado costuma ser um horror para os homens e uma tortura para as mulheres. As mulheres de pés feios costumam, reparem só, esconde-los como se fossem terríveis cicatrizes. Se fosse possível, por vaidade e para agradar aos homens, até os cortariam fora. Mas as mulheres de qualquer classe social também se encantam com os próprios pés. É um mecanismo psicológico que não me atrevo a tentar explicar, mesmo porque não faço a menor idéia do que em matéria de pés ( e talvez de todo o resto) o que passa pela cabeça das mulheres. Mas que os pés merecem um cuidado especial, merecem. É evidente que ninguém sai por aí, acredito, olhando todo o tempo para os pés femininos e nem surpreende ver mulheres de um melhor padrão social e que, portanto, podem freguentar pedicuras todos os dias com os pés tratados, ou seja limpos e bem cuidados. O que chama atenção (pelo a minha) é perceber que é nas classes sociais menos privilegiadas que os pés merecem maior atenção nos cuidados. Não há, repare só, uma única empregada doméstica, uma única e sacrificada moradora do mais longínquo dos subúrbios que não se orgulhe de exibir, geralmente em sandálias baratas e desconfortáveis, pés carinhosamente bem cuidados, mesmo que a cor do esmalte seja geralmente de um vermelho-roxo de cegar qualquer um. Esse cuidado pode ser consequência do trabalho que exercem: usam as mãos para lavar roupa, esfregar panelas e, portanto, não conseguem manter as mãos tão bem cuidadas como gostariam. Já os pés não passam por esses sacrifícios, embora passem por muitos outros, mas é para eles, os pés, que elas dedicam quase todos os dias cuidado a. Não faz muito tempo fui obrigado a enfrentar uma imensa fila em um hospital público ( no Brasil, aliás, tem sempre fila pra tudo) e foi fácil reparar como as mulheres de um evidente sacrificado nível social estavam em sua maioria com os pés “em dia”. As roupas que usavam eram surradas e as mãos nervosas não escondiam ser uma ferramenta de um diário e duro trabalho; os rostos sofridos tentavam esconder-se atrás de pós baratos e batons mais ainda. Mas os pés - ah! os pés - esses estavam ali, (apertados em sandálias de péssima qualidade) orgulhosamente bem cuidados. Como se fossem troféus.
E lá estavam elas, mulheres dolorosamente sacrificadas, enfrentando, com a firmeza dos pés, a fila desumana. e caminhando pela vida sacrificada. Pisando firme para vencer obstáculos.
Verdadeiros pés de anjo preparados para, quem sabe, um dia caminhar em busca de novos sonhos.

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