Desvia de um camelô aqui, de outro ali; sai fora dos entregadores de papeis com propagandas que não servem para nada; presta atenção em quem passa ao lado, olhe com o “rabo de olho” para que vem atrás ( pode ser um assalto); sai fora de quem caminha lentamente como se flutuasse; ultrapasse as senhorinhas que resolvem fazer “tricô de conversa inútil “ no meio da calçada. Ufa! que cansaço. Que aventura.
As calçadas que já foram local tranqüilo para passear, refletir, sonhar, pertencem cada vez menos aos pedestres. Caminhar, a qualquer hora, por uma calçada está quase impossível, ainda mais nesse tempo de eleição (como tem cara-de-pau por aí querendo voto, ou melhor, emprego público e fácil e principalmente a possibilidade de “entrar nessa boa boca”) que triplica o número de entregadores de santinhos (será que os santinhos”não deviam ser entregues para a polícia, o que – está bem, concordo – talvez não fosse adiantar nada mesmo)
Se quando escurece as calçadas esvaziam (todo mundo corre pra casa que ainda é, supostamente, o lugar mais seguro), durante as tardes ainda ensolaradas e quentes a multidão sai da cela em que se transforma – e cada vez mais – o antes “lar doce lar”, hoje prisão sem grade que só nos permite o “banho de sol” em horas determinadas. Determinadas por quem? Ora, todo mundo sabe... ninguém faz nada.
As lojas (cada dia fecha uma com medo da violência, por não mais conseguir lucros exorbitantes e por uma quase total falta de consumidores) continuam exibindo nas vitrines produtos que ninguém mais tem condições de adquirir, mas que de uma forma ou de outra, representam um sonho de consumo, a esperança de que amanhã “poderei comprar”. Deve ser por isso que muita gente costuma parar para ver vitrines, imaginando que um dia aquilo que está ali exposto, expondo também a difícil realidade econômica em que vivemos, um dia poderá ser de quem o está olhando com olhos gulosos e tristemente decepcionados. Não exatamente com o preço absurdo das mercadorias e sim com os miseráveis salários que se ganha por aqui.
Pula daqui, desvia dali, escapa para qualquer lugar. É difícil, mas é preciso manter o sonho e a esperança. Continuar caminhando e olhando as vitrines, mesmo que essa paradinha para olhar uma vitrine tumultue ainda mais a vida do aflito transeunte. É nas ruas que, apesar de tudo, ainda se pode refletir, reagir, reclamar (reclama-se cada vez mais), dizer o que se pensa. Nem tudo, é claro.
O brasileiro, o carioca especialmente, não perde o bom humor e foi com um humor-verdade que um pedestre reagiu quando mais um dos muitos entregadores de santinhos políticos que já lhe haviam torrado a paciência, praticamente esfregando a propaganda do candidato (com foto e tudo) na sua cara. Olhou para o jovem que lhe entregava o papel e perguntou, como se no velho oeste estivesse:
”É cartaz de procura-se?”
* Deveria ser
domingo, 28 de março de 2010
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