sexta-feira, 19 de março de 2010

CRÔNICA -- Corra que a polícia vem aí

As cruéis cenas exibidas nos noticiosos há dias pelo mostrando a agressões policiais contra pobres e indefesos trabalhadores sempre nos deixam indignados, mas não chegam a ser nenhuma grande surpresa: não é de hoje que o Brasil inteiro sabe da violência policial e não é à-toa que nossa polícia, seja a civil ou a militar, é totalmente desacreditada em todo o país. Muitas vezes o choque e a indignação ficam maiores porque as fortes imagens exibidas pela televisão são realmente revoltantes. Uma coisa é imaginar que essa violência infelizmente existe e a outra é ter que assistir passivamente a um brutal massacre que coloca em questão mais do que a atitude policial o comportamento do ser humano.
É verdade que não se pode generalizar (generalizar é também e sempre um absurdo) e condenar toda uma corporação que tem bons profissionais. Cada vez fica mais difícil Fica difícil acreditar em policiais, fardados ou não. Quem em sã consciência tem coragem de recorrer, no meio da rua, a um policial para pedir ajuda? Há muito que se houve a própria polícia dizer que quer mudar a imagem. Mudar a imagem não é tão importante assim se não se mudar o comportamento. Se a polícia quer mesmo mudar, não seria o caso de banir de seu convívio animais que só aparecem praticando covardias.
Vejamos só como está a situação: o trabalhador, que já foi o dia inteiro violentado pela vida e pelo patrão volta, depois de um sacrificado dia de trabalho para casa ( se é que os lugares em que os trabalhadores costumam morar podem ser chamados de casa) cansado. Marmita na mão caminha pensando em como deixará, no dia seguinte, comida para a mulher e os filhos. De repente vê na esquina um tumulto criado por policiais que supostamente cumprem o seu dever. Qualquer honesto trabalhador se sentiria protegido pela presença policial. Mas o brasileiro vive uma terrível experiência ao contrário: fica apavorado e, alertado pelo grito (“corre que a polícia está aí”) de outro honesto trabalhador como ele e sai sem destino, numa desabalada carreira.
O que está perfeitamente claro para qualquer cidadão brasileiro é que se qualquer um de nós tiver a falta de sorte de encontrar numa esquina um bando de policiais e do outro um bando de bandidos vai ficar sem saber para que lado correr...
* Mas terá de correr

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