terça-feira, 2 de março de 2010

Crônica - COPACABANA NÃO ENGANA

A garota (“olha que coisa mais linda”) passou por Ipanema fez o bairro ficar mundialmente famoso, mas nem assim conseguiu tirar o encanto de Copacabana que é ainda o bairro mais famoso do Rio de Janeiro (e, em consequência, do Brasil), o mais movimentado e o mais cosmopolita (está todo mundo lá: paraibanos, baianos, mineiros, cearenses, paraenses, sergipanos, suíços, japoneses, alemães, portugueses, espanhóis, italianos, etc.). O mundo está reunido em Copa e é isso que faz o bairro ser uma eterna festa. Uma festa no movimento colorido de pedestre, nas vitrines das lojas que tem de tudo para todos os gostos, nos letreiros luminosos. É verdade que esse acúmulo de população fez aumentar a violência e o medo. A especulação imobiliária que empoleirou as pessoas em pequenos caixotes insistentemente chamados de apartamentos tem feito muita gente “fugir” de Copacabana para bairros supostamente mais tranquilos, se é que se pode ter tranquilidade em qualquer lugar do Rio de Janeiro. Mas todo mundo acaba, um dia, voltando porque Copacabana parece exercer magia em seus moradores e visitantes. Copacabana é sempre uma festa para os olhos, para o paladar, para a sensibilidade. Basta sentar num dos muitos bares espalhados pelo calçadão da Avenida Atlântica para conhecer, durante uma tarde, os mais variados tipos. Lá vem, por exemplo, a bonita cigana tentando adivinhar a sorte nas tortuosas linhas das mãos; a cigana segue seu caminho, mas no mesmo caminho lá vem o desenhista tentando vender um retrato feito na hora. Às vezes até consegue, o desenhista, nunca consegue é fazer um desenho perfeito. Agora é a vez da paraibana baixinha que enfrenta diariamente horas de viagem no ônibus do subúrbio para no calçadão da Atlântica virar uma Emilia com sotaque carregado, mas sempre sorridente na tentativa de convencer qualquer freguês a tirar uma foto ao seu lado. O fotógrafo que acompanha a Emilia do nordeste é seu marido. Questão de economia doméstica: assim o dinheiro arrecadado fica todo (quando conseguem algum) na mesma casa. Até transformar-se na personagem Emília (ah! se Monteiro Lobato visse) baixinha e gordinha a paraibana é obrigada a enfrentar um diferente camarim no botequim mais próximo e inicia uma milagrosa transformação. Quando termina exibe uma exagerada maquiagem com sardas grosseiramente pintadas a lápis. Ganha também, em compensação, um novo sorriso, uma espécie de alegria de viver. É como se o sofrimento e os problemas ficassem ali na imundice do banheiro para que ela ganhe uma nova vida, alguns momentos de felicidade fingida no sonho de estar realmente sendo uma artista. Começa então a peregrinação pelo calçadão. São mais de trinta idas e vindas (do Leme ao posto 6) sem conseguir, na maioria das vezes, tirar uma foto. Escurece e no anoitecer de Copacabana e é hora de mudar o cenário e os personagens: entram em cena os travestis tentando conquistar fregueses e entram em cena também as prostitutas. Mas como saber, na escuridão da noite, mesmo iluminada por letreiros coloridos, quem é uma e quem é quem. Copacabana passa a viver um novo tempo, uma nova festa - uma festa que muda os personagens e a maioria tem sempre a mesma preocupação: a sobrevivência. Não adianta insistir para que procurem outros lugares para trabalhar e morar porque ninguém quer sair de Copacabana ainda que Copacabana já não engane e seja sempre uma festa.
* Mesmo que às vezes uma festa deprimente e desumana.

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