quinta-feira, 26 de abril de 2012

CRÔNICA ----- Um dia é pouco

Caminhamos pelas ruas e damos de cara com meninos e meninas jogados nas esquinas, amontoados debaixo de viadutos, perdidos na vida e no asfalto. São crianças que fazem do roubar, do cheirar cola e até do matar a brincadeira mais constante do dia a dia. É o que lhes resta. Lá estão elas, geralmente vestidas em enormes e maltrapilhas camisetas dentro das quais podem esconder a lata de cola que lhes engana a fome e ajuda a criar coragem e sonhos. Caminhamos e observamos tudo atentamente – não por pena, mas sim por medo e precaução. É mesmo preciso ficar atento para não ser mais uma vítima. Nunca somos as grandes vítimas. Vítimas maiores são elas, pobres crianças que não tem nem o direito de usufruir da infância. Caminhamos e olhamos para as vitrines das lojas de brinquedos escolhendo o que comprar para que nossos filhos, sobrinhos ou netos possam festejar um alegre Dia da Criança, como se dia da criança não fosse sempre. Não é pelo menos enquanto houver crianças literalmente jogadas na nas ruas como se lixo fossem. Acabem mesmo sendo o lixo de uma sociedade que as descarta e não se importa muito com o próximo e está convencida de que não pode fazer nada. Pode sim. Caminhamos e até pensamos que distribuindo brinquedos baratos feitos de plástico vagabundo estaremos fazendo algumas crianças supostamente mais felizes. Ao distribuir sacos de brinquedos velhos ou baratos em instituições de caridade estamos de alguma forma presenteando nossa consciência na ilu8são de eu assim fazemos a nossa parte e seremos recompensados. Aqui ou no céu. Não acredito que mesmo com medo possamos caminhar sem pensar que o Dia da Criança é apenas mais um dia para beneficiar o comércio. Dia da Criança deveria ser tidos pos dias e sem ligação comercial. Só será realmente Dia da Criança quando não houver mais meninos e meninas jogados nas ruas. Mesmo assim um dia será sempre pouco, muito pouco enquanto esse dia não for de todas as crianças e não tivermos medo delas e enquanto elas, crianças, não perderem a ingenuidade e todas puderem brincar sem preocupações. Sem estarem sendo empurradas para um futuro sem futuro. Dia da Criança deveria ser mesmo o Dia do Futuro. Um futuro melhor e mais digno para todas as crianças. (Eli Halfoun)

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