sexta-feira, 27 de abril de 2012

CRÔNICA ----- Muros do medo

Lembra da época em que os cariocas brincavam com a turma de São Paulo dizendo que programa de paulista era passear em shopping ou ai ao aeroporto ver avião subir e descer? Agora estamos pagando pela língua: ir passear no shopping também virou programa obrigatório dos cariocas. Os cariocas ainda não chegaram a perfeição de ir para o aeroporto que no casso do internacional na Ilha do Governador não seria um passeio, mas sim uma viagem - uma perigosa viagem já que a passar pela Linha Vermelha é trajeto obrigatório. Recente pesquisa (dessas que não servem para nada) revelou que passear a qualquer hora do dia por um shopping é programa que assim como os paulistas, os cariocas não dispensam atualmente. É que diante de uma realidade violenta os shoppings passaram a oferecer boas e variadas alternativas gastronômicas. Não é exatamente a variedade de opções culinárias que está fazendo o povo colocar os shoppings como um programa preferido: o descontraído cidadão do Rio, que sempre preferiu a liberdade das ruas para divertir-se opta pelo shopping porque já não pode passear sem medo pelas calçadas e pelos botequins. Quem tem, tem medo e a segurança dos shoppings se impõe como opção. Dados da pesquisa revelam que os restaurantes estão faturando mais no almoço do que no jantar: ninguém quer arriscar-se a sair de casa quando escurece. Assim os shoppings viraram uma espécie de trincheira na qual os indefesos cidadãos, ou seja, nós buscam segurança e proteção contra a violência dos assaltos e de uma agressividade descontrolada que nos está “possuindo”. Os shoppings e suas sempre lotadas praças de alimentação parecem ser agora a única alternativa supostamente segura, livre da violência, mas não do insuportável e ensurdecedor barulho que toma conta de seus corredores. Tenho certeza que se não fosse pelo medo os cidadãos (cariocas ou não) prefeririam as ruas e os alegres botecos da vida. Precaver-se é preciso e, portanto, não se pode dar mole para a possibilidade de um assalto, uma bala pedida, uma blitz falsa. É triste que sejamos obrigados a viver entrincheirados nos muros de concreto e de vergonha que somos obrigados a buscar cada vez mais. Estão assaltando o nosso bem mais precioso: o sagrado, feliz e democrático direito de ir e vir para onde se quiser e bem entender. (Eli Halfoun)

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