domingo, 22 de abril de 2012
CRÔNICA ------- Mania nacional
Triste realidade: estamos ficando tão acostumados com tanta desonestidade no país que até parece que é coisa normal. Acreditamos que nada mais nos surpreenderá. Todo dia os jornais ocupam um cada vez maior espaço para denunciar roubos públicos, alguns até oficializados e embutidos nos preços das mercadorias, nas taxas de água, luz, gás e por aí vai. Todo dia somos vergonhosamente roubados: tomam o dinheiro na mão grande e não o devolvem em serviços.
É tanta falcatrua que a população nem mais se assusta com o que lê, vê e ouve. Pior: o cidadão passa a achar que “para não ser feito de bobo” também pode (não pode e não deve) entrar no time dos espertalhões, ou seja, dos ladrões,
Parece que agora não é mais amor que com amor se paga: a nova e triste mania nacional é acreditar que desonestidade com desonestidade se paga. Como se isso fosse uma aceitável justificativa para cometer erros e fazer o que criticamos nos outros.
Eu também acreditava que não me surpreenderia com mais nada, mas fiquei não só surpreso, mas principalmente indignado quando recentemente ouvi um cidadão (se é que esse pode assim ser chamado) contar com orgulho (êta orgulho besta) que tinha se vingado depois de ter recebido multas de trânsito que considerou injustas. A “vingança” veio em forma de roubo - um roubou que prejudicou muito mais cidadãos necessitados do que os órgãos públicos.
O que fez esse “herói”? Tratou de conseguir receitas de médicos do município para adquirir remédios nas farmácias populares a preço muito mais em conta, ou melhor, mais justos. Os remédios adquiridos por um real foram repassados, com preço triplicado, para farmácias que os revenderam pelo abusivo preço de tabela.
Em nome do que considerava uma injustiça o espertalhão-idiota cometeu uma injustiça ainda maior com quem precisa dos medicamentos e não pode adquiri-los prelo preço oferecido no mercado farmacêutico.
Os ouvintes do “herói” em questão achavam tudo normal e até sugeriram que esse tipo de golpe fosse aplicado no imposto de renda porque aí estaria “tudo bem”. Tudo bem coisa nenhuma: um roubo não justifica outro.
Não faz e nunca fez o menor sentido a velha lenda de que ”ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Ladrão que rouba ladrão também tem de ir para a cadeia. Só assim talvez um dia - e que seja breve - poderemos fazer com que a roubalheira não vire uma mania nacional em todos os segmentos da sociedade. (Eli Halfoun)
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