domingo, 29 de abril de 2012
CRÔNICA ------- Noite vazia
A solidão está cada vez maior e os solitários cada vez mais sozinhos. É fácil reparar isso quando se circula na noite: as ruas estão vazias e as poucas pessoas que ainda se atrevem e se arriscam a caminhar na escuridão andam apressadas e amedrontada, torcendo para chegar o mais rápido possível a um porto seguro que faça menos provável um ato de violência na escuridão da noite.
No táxi que me leva para casão ainda jovem motorista conta que trabalha de dez a onze horas por dia e é por teimosia que insiste em rodar durante a noite: depois das 20 horas é difícil encontrar um passageiro. A escuridão noturna virou um silencioso toque de recolher. Ninguém mais se aventura a sair de casa quando a noite cai. A vida noturna virou uma armadilha e a violência apagou as luzes que faziam da noite uma diversão ou no mínimo um consolo para os que estão sós.
Penso nos solitários (já fui um deles) que podiam fugir (não podem mais) da solidão saindo no meio da noite para dar uma volta, tomar uma cerveja em qualquer boteco, fingir que não está só.
Agora o solitário é obrigado a ficar em casa porque não vale a pena arriscar-se na escuridão.
Moradores do Rio já estiveram no centro de uma das mais badaladas vidas noturnas do país com um intenso movimento e muitos empregos. Os tempos mudaram: todo dia se lê ou se ouve que mais um restaurante, um bar ou uma boate fechou por falta de movimento. As casas que heroicamente ainda resistem são obrigadas (por uma questão de segurança) a fechar mais cedo: depois da nove horas da noite convivem muito mais com mesas vazias do que com fregueses. É verdade que mesmo que as coisas tenham melhorado a situação financeira também nos afasta dos bares, restaurantes e das boates, da diversão de uma maneira geral. De noite e de dia.
Quem mora sozinho, sozinho tem de ficar. Se depender de passar o tempo passeando pela rua não o faz simplesmente porque não existe mais espaço para andar tranquilamente.
Reconheço que a solidão pode não ter nada a ver com o estar acompanhado: muitas vezes o solitário pode estar com muitas pessoas e continuar só: a solidão se instala dentro de cada pessoa. Sair na noite permite (permitia) tentar enganar a solidão e encontrar algum movimento para preencher o vazio.
Hoje até quem olha pela janela não vê nada. A noite deixou de ser motivo de inspiração, de diversão e de encontros mesmo eu apenas casuais. Agora na escuridão da noite só se encontra medo. Muito medo. (Eli Halfoun)
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