segunda-feira, 30 de abril de 2012

CRÔNICA ------ Filhas da mãe

O tempo é de fazer economia, mas mesmo assim o Dia das Mães promete ser como sempre uma festa para o comércio. É como se nesse dia de carinho específico e determinado nos quisessem fazer (e fazem) gastar o que não temos. Até parece que almoçar fora ou comprar presente é uma demonstração de afeto realmente significativa. São muitas as pessoas que se obrigam a fazer festinha para a mamãe só no dia que se impôs seja o dela, como se de filho para mãe todos os dias não fossem (deveriam ser) dela. Dá para perceber nitidamente nos desconfortavelmente cheios restaurantes que no Dia das Mães a maior parte da freguesia só está ali cumprindo uma obrigação social. Dá para perceber que não há nenhum prazer nesse obrigatório e barulhento almoço de família. Nunca entendi direito a necessidade de marcar data e no caso hora (a do almoço) para mostrar carinho e amor, seja por quem for. Uma das maiores demonstrações de amor que descobri foi em enfumaçadas boates nas quais muitas filhas se amontoam em busca de uma vida supostamente mais fácil. Na maioria das vezes é a única maneira que essas filhas da mãe enxergam para melhorar de vida ou simplesmente e apenas sobreviver. São moças (algumas ainda meninas) que não querem permitir que nada falte para as velhas e sacrificadas mães que deixaram em afastados subúrbios ou em cidadezinhas do interior, das quais nós esquecemos o endereço e a existência, mas elas não. Com curiosidade de repórter (que felizmente ainda mantenho) conversei com várias garotas de programa e aprendi que elas não querem que nada falte para suas velhas mães. Quer dizer: estão ali vendendo (ou seria apenas alugando?) o corpo por um verdadeiro amor. Amor pelas mães, Essas adoráveis filhas das mães geralmente moram amontoadas em pequenos apartamentos, dormem em colchonetes baratos, alimentam-se mal (quando se alimentam) e fingem gostar da vida alegre e fácil que tentam levar. Vivem no sacrifico. Já para as mães nada deixam faltar. As abençoadas mães dormem (elas sim) em confortáveis colchões, tem fogão, geladeira e televisão da melhor qualidade e se a mesa não é tão farta pelo menos não lhes falta o que comer, ao contrário do que acontece com as filhas que bancam com prazer o amor que proporciona para as mães todo o conforto. No Dia das Mães que está chegando serão raras, muito raras, tão intensas demonstrações de amor quanto as que descobri nas adoráveis e doces filhas da mãe. Não é preciso traduzir amor em almoços ou presentes obrigatórios. Basta olhar carinhosamente para ela, a mãe. (Eli Halfoun)

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