quarta-feira, 18 de abril de 2012

CRÔNICA ----- Orgulho verde e amarelo

Um complexo de inferioridade que historicamente nos domina desde o descobrimento do Brasil é responsável por um absurdo fenômeno que nos faz sentir vergonha de tudo o que temos e somos. O que é brasileiro nos parece sempre pior. Só nos orgulhamos - às vezes até com exagero - do futebol, do desfile das escolas de samba e da beleza da mulher brasileira.
Mesmo com as constantes demonstrações de roubalheiras políticas da qual somos as maiores vítimas, o brasileiro pode orgulhar-se dele mesmo: o brasileiro é o povo mais trabalhador do mundo, o mais sacrificado e é sempre um vencedor – um vencedor que precisa lutar sem parar para não ser um perdedor, como a vida teima em tentar fazer.
É nesse brasileiro rude e sofrido que encontramos o exemplo de uma luta sem fim e de uma força que nos faz vencedores diante do mundo. Só que o mundo não sabe disso porque não conhece e conversa com o Brasil mais autêntico. Só conversando com essa gente rude e sofrida é que se pode perceber e descobrir o quanto o povo desse país sabe ser forte.
Dirigindo um táxi o brasileiro Aprígio (parece nome de ficção) mostra essa força ao volante do carro comprado com sacrifício depois de muita luta, muita fome, muita dor e muita esperança. Como tantos outros brasileiros o maranhense Aprígio cresceu sem aprender a ler porque “menino do interior tem de trabalhar duro desde cedo para ajudar a família”.
Cresceu com o sonho da cidade grande e com vontade de servir o Exército, o que ainda é a salvação de muitos jovens pobres em busca de um pequeno soldo e a certeza de que no quartel não passará fome.
Rejeitado pelo Exército por ser analfabeto, o então jovem maranhense conseguiu emprego de faxineiro em uma embarcação e saiu mar afora. Durante muitos anos limpou chão, privadas e foi aprendendo outras tarefas até virar um craque em navegação e aí sim navegar também pelos mares de seus sonhos. Mudou-se para o Rio, a sempre sonhada cidade grande e iniciou uma mova luta até encontrar emprego de faxineiro em uma padaria. Novamente aprendeu na prática um novo ofício e inscreveu-se em um, curso noturno para finalmente aprender a ler. Através das poucas palavras aprendidas com esforço fez o grande progresso para ser motorista de táxi.
Hoje tem seu próprio táxi, comprou um modesto apartamento no subúrbio e construiu uma casa para a velha mãe. Esse esforçado brasileiro continua dirigindo táxi, mas já tem uma empregada que deixa a casa limpa e a comida pronta (“vou tirando pedaços quando a fome bate”). Não reclama de nada e como todo brasileiro, está aí pronto para enfrentar todas as batalhas. São brasileiros assim que se tornam vitoriosos e sempre podem chegar ao sonho maior. Inclusive o de ser presidente da República. (Eli Halfoun)

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