terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

CRÔNICA ----- Conto de fadas

Quando crianças aprendemos que hospitais existem para cuidar dos doentes, para salvar vidas, para nos livrar das dores físicas e das doenças. Crescemos e vemos na televisão e nos jornais que tudo é completamente diferente do que ensinaram na nossa inocência infantil. Parece que hospitais, pelo menos os públicos e que por serem públicos deveriam ser os mais competentes e bem aparelhados, fazem exatamente o contrário do que aprendemos na infância: não cuidam (mal atendem) dos doentes, raramente salvam vidas (geralmente apressam a morte) e em vez de nos livrar das doenças e das dores nos deixam mais doentes e com uma dor ainda maior: a dor da decepção, da revolta e da vergonha de ter que depender de um serviço pelo qual pagamos muito caro com nossos impostos.
Quando crianças costumamos sonhar ser da polícia ou qualquer outra coisa que nos permita usar farda e usá-la com orgulho. Uniformes militares sempre fizeram (faziam) parte do imaginário infantil. Quando crescemos descobrimos que a farda não é mais motivo de orgulho, mas sim de medo: policiais militares escondem as fardas até nos seus varais, trocam de roupa ao saírem do quartel para não serem alvos fáceis dos bandidos. A farda que toda criança quis usar hoje precisa ficar escondida – tão escondida quanto a maioria de nossos sonhos. Na infância a aprendemos que polícia existe para nos proteger, mas quando crescemos descobrimos nem sempre é bem assim. A polícia mal está conseguindo proteger-se.
Quando crianças aprendemos que autoridades e políticos existem para ajudar, para melhorar as coisas. Basta crescer um pouquinho para descobrir que isso também não passa de mais um conto de fadas entre os muitos que ouvimos na infância.
Quando crianças nos ensinam que é preciso sonhar e acreditar no futuro. Quando crescidos descobrimos que sonhar é fundamental, mas que os sonhos quase nunca se concretizam. Pelo menos os sonhos coletivos. Aprendemos também que acreditar no futuro é uma crença absolutamente irreal: tudo continua sempre na mesma. Ou seja, sem futuro.
Ainda crianças nos ensinam que brincar é fundamental. Adultos descobrimos que brincam com a gente.
Quando a criança queremos ser um adulto. Quando nos fazemos adultos o sonho é voltar a ser criança. Pelo menos para poder voltar a acreditar nos sonhos (Eli Halfoun)

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