Além de peças ainda muito discutidas, livros e crônicas o teatrólogo e escritor Nelson Rodrigues foi um perfeito criador de frases e uma das mais famosas é “o brasileiro só é solidário no câncer”. A principio pode parecer uma frase agressiva, especialmente porque a palavra câncer ainda é assustadora, até porque para a maioria da população câncer ainda é sinônimo de sofrimento e de morte, o que com os avanços da ciência, não é mais a verdade pura e absoluta. Quando criou a frase Nelson Rodrigues não se referia evidentemente a doença, mas sim a capacidade do brasileiro em ser solidário e presente nos momentos mais difíceis e na mátria das vezes apenas neles.
A frase de Nelson Rodrigues é a síntese de uma realidade que na maioria das vezes insistimos em não ver, embora a solidariedade esteja pulsando em no coração de qualquer brasileiro (mesmo dos que insistem em fugir dela). A solidariedade se manifesta plenamente nos momentos de tragédias, ou seja, do “câncer” maior com que a vida nos surpreende, mas que incrivelmente não nos assusta nos momentos em que precisamos dispor da mais completa emoção. De toda a força para exercer o que nos é comum: o ato de ser solidários.
Nas tragédias (não têm sido poucas) que acontecem em todo o país e no mundo as manifestações de solidariedade chegam a ser comoventes: todos querem ajudar porque precisam ser úteis, inclusive para assim perceberem que o ser humano ainda não está tão acabado e cruel quanto se pretende. Estamos sempre prontos a prestar solidariedade.
A solidariedade seria mais intensa e teria resultados mais concretos se não a deixássemos aflorar apenas nos momentos trágicos. Se nós, os homens de boa vontade, deixar-mos a solidariedade pulsar em nossos corações em todos os momentos aí sim estaremos ajudando uns aos outros uns aos e a construir um mundo realmente melhor. Em outras palavras: não precisamos e não devemos ser solidários só no câncer Se a solidariedade deixar de florescer só nas tragédias a frase de Nelson Rodrigues perderá o sentido. A vida é que ganhará mais sentido. Até porque viver é acima de tudo estar todo o tempo solidário. Com o próximo e, portanto, com a vida.
São muitos os exemplos solidários que se manifestam nos momentos de tragédias e se podemos enumerar vários, embora em meio a solidariedade apareçam sempre os que querem se aproveitar das situações difíceis para facilitarem as própria vidas, o que no fundo além de cruelmente desumano não deixa de ser uma também cruel maneira de sufocar a solidariedade que certamente pulsa também nos corações de quem pouco acredita nela e, o que é pior, a usam em benefício próprio. Aí deixa de ser solidariedade: passa a ser um crime com a própria emoção, além de ser também uma maneira de tentar desacreditar e não incentivar a solidariedade na qual a maioria das pessoas ainda acredita e exerce. Nada desanima o coração e a atitudes dos solidários. Ainda bem que os solidários são a maioria.
Talvez a melhor forma de estar solidário seja fazer-se presente nos momentos em que o “câncer” ainda não se manifestou. Só com solidariedade coletiva ininterrupta será perfeitamente possível evitar ou minimizar as tragédias, antes que aconteçam. Afinal, não precisamos delas se exercemos o mais profundo de nossos sentimos: a forma solidária de amor todo o tempo todo e todo. Para que esperar as tragédias como se fossem o compromisso com o ato de ser solidário. Ser solidário não é absolutamente compromisso. É amor. Amor total.
Repare só como o ser humano é sabe ser intenso e enorme nos momentos das tragédias. Nessas horas são as vítimas que juntam a dor para transformá-la em amor e em solidariedade. As pessoas que não tem materialmente mais nada é que se desdobram para ajudar quem ficou com menos ainda. Essas pessoas sem nada nunca perdem o amor ao próximo. Tudo bem que o que o quilo de arroz e de feijão, a lata de leite ou as roupas usadas que doamos ajudam muito. Mas não são absolutamente nada diante de tudo o que o ser humano ainda pode (e deve) fazer. Fica claro que a tal solidariedade é latente em cada um de nós. Ainda bem que é assim. Do contrário as tragédias seriam sempre maiores. Felizmente nós os solidários de todas as horas somos muito maiores do que todas as tragédias. (Eli Halfoun)
domingo, 12 de fevereiro de 2012
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