É estranho, muito estranho, o comportamento humano: estamos, de uma maneira geral, sempre afiados para criticar negativamente (elogiar é mais difícil) e humilhar as pessoas que mais precisam de atenção, e carinho e ajuda, do que para reconhecer seus méritos e ajudá-las a dar a volta por cima. Parece que esse é um lamentável comportamento determinado pela facilidade: é bem mais fácil falar mal e do que pelo menos tentar ajudar. Parece que a maioria das pessoas se fortalece em cima da fraqueza de outras. É time grande dando goleada em time pequeno, o que, convenhamos, não tem qualquer valor, nem a menor graça.
São muitas as humilhações impostas no dia a dia, mas nenhuma é mais cruel do que a humilhação de estar sem emprego e, portanto, sem qualquer oportunidade de viver um tempo emocional digno e feliz. O desempregado sente-se (e é) humilhado até dentro de casa, mas na rua é pior: na hora de procurar emprego já entra de cabeça baixa, inseguro porque sabe que terá de ouvir mais um “não” ou, no mínimo, receber uma proposta indecente em termos salariais e profissionais, além de promessas que podem até lhe dar um pouco de esperança, mas que nunca se cumprem. O desemprego arrasa com a auto-estima e, portanto, com qualquer perspectiva de felicidade.
O desempregado não perde só a auto-estima: acaba também perdendo os amigos: ninguém quer ficar ouvindo lamentações e foge do desempregado, ao qual geralmente só resta mesmo reclamar da vida, por mais otimista que possa ser. O homem sem emprego acaba prisioneiro de sua própria casa (quando ainda a tem) e da solidão: não vai mais nem ao botequim da esquina (por absoluta falta de dinheiro) para jogar conversa fora, o que é sempre saudável, e tomar uma (apenas uma) cervejinha, o gelado combustível de um papo sempre necessário. Uma pessoa sem emprego é uma pessoa condenada a esperar horas e horas quando lhe prometem ajuda, a humilhar-se para receber míseros trocados nos “bicos” que eventualmente consegue.
A humilhação é um componente cada vez mais presente no dia a dia: somos humilhados nas filas dos hospitais, bancos; com as promessas nunca cumpridas; com a violência que de uma forma ou de outra nos arranca as entranhas; com o tempo de espera na tentativa de conseguir alguma coisa; com a total e absoluta falta de perspectiva. Acordamos humilhados (até os sonhos nos humilham) e enfraquecidos lamentando ter de enfrentar mais um dia que certamente será doloroso como todos os outros. Todo tipo de humilhação, seja social ou racial, é terrivelmente absurda e fica cada vez mais difícil conviver com esse tipo de coisa.
A falta de emprego é a mais cruel das humilhações porque não há como reagir e principalmente porque destrói aos poucos a esperança, que, dizem, é a última que morre. Geralmente o desempregado morre antes. Humilhado.(Eli Halfoun)
sábado, 25 de fevereiro de 2012
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