quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CRÔNICA ---- Como se fose brincadeira de roda

Repare como o homem é confuso: passamos a vida brigando para permanecer vivos, mas não conseguimos entender que estar e permanecer vivo significa inevitavelmente envelhecer. Afinal, é para isso que de uma forma ou de outra conduzimos nossa existência. Mesmo assim ainda não conseguimos aceitar com tranquilidade e sabedoria a chegada da velhice.
Os velhos que tanto lutaram (e lutam) para ficar vivos e, portanto cada vez mais velhos e os jovens que um dia também chegarão aos inevitáveis cabelos brancos, não conseguem aceitar com tranqüila inteligência a chegada da velhice. Assim não sabem e não aprendem a conviver com o avanço da idade. Resultado: transformamos a luta para permanecer vivos em uma luta sem sentido criando um sentimento paradoxal: ora, a=se permanecer vivo é ficar velho, não há por que temer a idade e muito menos a vida. Mal ou bem a vida continua e continuará não se sabe até quando. Aliás, não sabemos o quanto a vida continuará nem quando nascemos.
Talvez todo o desconforto com a velhice esteja ligado ao simples fato de que a dita idade avançada nos deixa mais perto da morte, daquilo contra o que lutamos a vida inteira. Portanto, se lutamos e vencemos envelhecer não deve ser motivo de medo, de recolhimento e muito menos de sentir-se um nada, como costuma acontecer intima e freqüentemente.com muitos idosos.
Quem chega aos 60, 70, 80, 90 anos deve isso sim sentir um profundo orgulho dos cabelos brancos e até exibi-los como troféus. Eles representam o máximo de orgulho de quem venceu obstáculos durante muitos anos, mesmo que tenhamos consciência de que um dia deixar a vida é o único destino traçado para todos nós.
Verdade que muita gente chega a velhice de forma deplorável: arrastando-se pelas ruas, humilhado pela miserável aposentadoria, vivendo sem qualquer tipo de atenção, conforto e comodidade. Muitos idosos são agredidos pela sociedade e até por familiares.
Embora essa seja também uma cruel realidade não é exatamente esse o retrato que os velhos devem ter da velhice. Ficar velho não significa perder, mas sim ganhar. É a idade que nos acrescenta encantos, sabedoria, experiência e um fundamental passado, ou seja, uma vida para contar. Quantas pessoas conseguem realmente ter uma história de vida para narrar?
Se a velhice nos deixa mais perto e mais conscientes da morte ela também nos aproxima mais e inteiramente da vida. A vida não é só a que estamos vivendo. É aquela que podemos relembrar.
Conviver “numa boa” com a velhice é o segredo maior da vida. É viver cada vez mais e intensamente para continuar vencendo obstáculos e fazendo de cada dia um novo capítulo, mesmo que o final seja o que já conhecemos.
Aceitar a velhice é acima de tudo uma questão de respeito ao próprio corpo, às próprias lutas.
Ficar velho não é estar morto. Pelo contrário: é estar cada vez mais vivo e completo. (Eli Halfoun)

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