Vivemos num país em que de certa forma se faz, principalmente na política, um carnaval o ano inteiro, mas tem o momento exato de botar o bloco na rua. É só mais uma maneira de dizer. Perdeu-se no tempo o tempo em que se ia tranquilamente às ruas para fazer a festa, mesmo que fosse só olhando pessoas fantasiadas, geralmente com muita graça e criatividade.
Quase não tem mais fantasia. Na verdade nem tem mais: hoje somos arrastados pelos blocos (aqui os de carnaval e em Brasília os políticos). Ninguém mais é besta de sair por aí para correr perigo de vida. O carnaval deixou de ter e ser vida. A necessidade de sobreviver (em todos os sentidos), de economizar, de não gastar dinheiro em besteira, rasgou todas as fantasias. Internas e externas.
Hoje até o mais animado dos foliões prefere usar uma camiseta simples e bem baratinha e um também simples, baratinho e colorido short para, quando tem coragem, dar uma voltinha pelas praças e pelos palanques. As fantasias, que realmente tem a ver com carnaval, só se vêem nas escolas de samba que, mesmo economizando ainda são m luxo só.
A mudança de hábitos imposta pela necessidade de fazer economia não acontece só com as fantasias no carnaval. Muita coisa está mudando. Já reparou, por exemplo, que desde que surgiram os sacos de carregar compras de supermercado, os sacos de lixo quase não são mais utilizados: forram-se inadequadamente as lixeiras com sacos de supermercado que, aliás, estão proibidos, mas continuam aí aos montes.
Reparou também que a maioria das mulheres pinta os cabelos (todas as mulheres pintam os cabelos) em casa, evitando o gastar mais no salão de beleza? Outras condutas impostas pela necessidade de economizar ganham – e cada vez mais – espaço no cotidiano. Procuramos os produtos mais baratos mesmo sabendo que são, na maioria das vezes, de qualidade bastante inferior.
O carnaval, época de descontração e alegria, também entrou no ritmo da marchinha da economia. Afinal, é bem mais econômico comprar camiseta e short nos camelôs e se acabar, além de acabar em uma festa que não exige mais criatividade e não tem e nem dá espaço para que se possa ser um alegre e tranquilo folião nas ruas de medo e das incertezas. Fantasia agora só se for blindada.
Nosso carnaval está deixando de ser uma festa em que o folião podia exercitar sua criatividade e seu protesto. O carnaval está perdendo sua razão maior de ser: a alegria descontraída, brincalhona e feliz. Saudável. Até isso estamos permitindo que nos tirem. Sem fantasias (de vestir e de sonhar) estamos cada vez mais nus. (Eli Halfoun)
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
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