domingo, 29 de janeiro de 2012

Na tragédia uma visão distorciada da realidade

Em tragédias como a que vitimou (mais uma vez) o Rio a comoção é geral (nem podia ser diferente), mas também ocorre um fenômeno determinado talvez pela vontade de aparecer. Como já ocorreu em outras tragédias não demora muito surgirão os que escaparam por pouco. Serão muitas as pessoas a dizer que passaram na porta do prédio um minuto antes do desabamento e que, portanto, renasceram. Foi assim quando caiu o viaduto construído na Avenida Paulo de Frontin. Foi assim também na recente tragédia da explosão de gás em um restaurante da Rua da Carioca e será assim, agora. A região atingida está tomada de curiosos e as entrevistas se repetem. De todas as que ouvi até agora uma me chamou especial atenção pela frieza: a de uma senhora que se apresentou como proprietária do Edifício Colombo, arrastado pela queda do gigante enfraquecido e mal cuidado. Durante as conversa com o repórter da TV Globo a senhora, aparentemente calma, lamentou apenas que a cidade perdeu um prédio que mantinha sua art-decô e as pastilhas portuguesas originais. Em nenhum momento a senhora falou na irrecuperável perda de vidas. Na interrupção do futuro de muitas pessoas que nem poderão mais contar o passado. Não importa a decoração. O que importa é o coração. Todos os edifícios da Treze de Maio podiam cair ao mesmo tempo se não tirassem de cena uma única vida. Vidas são e serão sempre mais importantes do que pastilhas portuguesas. (Eli Halfoun)

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