domingo, 22 de janeiro de 2012

CRÔNICA ---- O jogo dos solitários

Eram melhores sem dúvida os tempos em que a noite carioca e também a paulista tinha dezenas de boas atrações e viviam recheadas de fregueses divertidos e não tão amedrontados quanto os de agora. Hoje o medo da violência (parece que ficou impregnado em cada um de nós) e de um sempre necessário “apertar cinto” (o brasileiro já se acostumou com isso) a noite carioca, assim como a paulista, continua famosa em todo o país, mas deixou de ser um celeiro de atrações. Virou apenas um amedrontado palco para o refúgio dos solitários. Ainda é uma fábrica de ilusões, mas não atrai mais tantos artistas que fugiam de seus esquecidos e perdidos estados em busca da fama e de uma vida melhor no Rio ou em São Paulo. No Rio a noite dos solitários ainda está mais concentrada no eixo que começa na Av. Prado Júnior onde as chamadas boates eróticas tentam resistir de todas as formas.
Nesse tempo de fundamental cuidado sexual não é exatamente em busca do corpo das mulheres que o homem está em busca - até porque sabe que as mulheres ali estão apenas em busca de dinheiro. e de com ele poder realizar pelo menos o sonho de deixar a apertada vaga na qual é são obrigada a dormir, geralmente em colchonetes imundos e sem qualquer tipo de conforto. É um sacrifício quase obrigatório porque quase sempre saem da pobreza do subúrbio, onde quase sempre deixam os filhos que sustentam.
Mesmo cheias de problemas as ditas mulheres de vida fácil cumprem todas as noites a difícil missão de mesmo famintas (muitas não almoçam e nem jantam) de sorrir e alegrar os fregueses – fregueses solitários que só querem e precisam de alguém para conversar.
A solidão é o sentimento mais dolorido que o ser humano enfrenta até quando está cercado de pessoas. É principalmente para os que estão sozinhos que a noite dos solitários continua fabricando sonhos - sonhos que alimentam a vida de esperança e de menor solidão. As artistas da noite alimentam os sonhos dos solitários e os seus próprios: estão sempre ali nas calçadas ou nos fedidos palcos das também fedidas boates vendendo (talvez também tendo) um pouco de alegria. Tem sempre um freguês solitário que sorri para elas. Elas sorriem de volta e acham que estão realmente agradando. Faz parte do jogo, faz parte dos sonhos, faz parte dos solitários disfarçadamente escondidos na escuridão da noite. (Eli Halfoun)

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