segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CRÔNICA ----- Tempos modernos

Uma imagem é marcante quando se quer falar em modernidade: a que mostra o genial ator e cineasta britânico Charles Chaplin todo atrapalhado com o mecanismo de uma nova máquina. A imagem virou o perfeito retrato de um tempo e ganhou espaço no mundo. O filme é de 1936, recebeu o título de “Tempos Modernos” e nele o personagem vagabundo criado por Chaplin tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado. Aqueles tempos modernos ficam ainda mais antigos quando se tenta acompanhar a velocidade com que o mundo se moderniza e nos confunde hoje.
A modernidade é fundamental e inevitável, mas ao mesmo tempo em que nos permite avanços tecnológicos e científicos tem feito com que seja cada vez mais difícil conviver com as descobertas que supostamente melhorarão (se não forem bombas ainda mais destruidoras) o mundo, mas nem tanto a vida de cada um de nós. A obrigatória convivência com o moderno está limitando a emoção. Cada vez menos nos preocupamos com o que realmente sentimos para cada vez mais apenas aprendermos a conviver com a tal modernidade, que é fundamental sim para a vida profissional, mas perfeitamente dispensável quando se trata de lidar com sentimentos e, portanto, emoções, coisas antigas e que a modernidade por mais quer tente jamais conseguirá superar.
Conviver com o moderno é em primeiro lugar aprender a não se deixar transformar em um robô de carne e osso. Nem mesmo esse novo homem moderno pode (e deve) funcionar como se bastasse ligá-lo na tomada e apertar um botão. Sentimentos não funcionam assim e se isso um dia vier a acontecer o homem será apenas mais um máquina. Por enquanto e felizmente somos apenas “escravos” das máquinas e de seus mecanismos às vezes cruéis porque nos amedrontam e apavoram, mesmo que nos permitam um futuro melhor. Mas será que existe e existirá futuro melhor sem emoção e, portanto, sem amor?
Que venha sim a modernidade, mas que não nos tire o que temos de mais inteiro, verdadeiro e precioso: a emoção.
A modernidade até nos facilita a vida em vários aspectos, mas paradoxalmente, também nos ameaça e engana. Tomemos como base a modernidade científica: não é mais uma ilusão acreditar e, portanto, nos enchemos de esperança, como se todas as mazelas de saúde realmente terminarão um dia Mais precisamente no dia em que os modernos laboratórios que fabricam remédios deixarem?
A modernidade científica interessa aos laboratórios até certo ponto: para eles, laboratórios, a doença sempre foi (é) muito melhor do que a saúde porque, afinal, é das doenças que os laboratórios se alimentam. As curas anunciadas pela modernidade jamais serão uma definitiva realidade.
Tudo bem que a modernidade científica é só um amontoado de esperança, mas a modernidade da informática é presença útil no dia a dia. Pode-se dizer sem medo de errar que hoje ninguém sobrevive sem computador, mesmo que para muitos ele seja apenas e ainda só uma ferramenta de lazer. Somos reféns da informática. Estamos muito mais nas mãos do computador do que, ao contrário do que acredita, ele na sua. O computador que nos facilita a vida é também o que nos ameaça com criminosos golpes aplicados via internet. O golpe maior da informática também é o emocional na medida em que permite conversar (como se para conversar o olho no olho não fosse fundamental), iniciar ou terminar uma relação afetiva com 140 toques no Twitter, um recadinho via Facebook ou um também econômico e-mail, Todos escritos de forma errada porque até as palavras a modernidade nos “rouba”. Hoje você não precisa dizer para o parceiro um efusivo e apaixonado “eu te amo”. Basta escrever “T amo”, que jamais revelará a verdade de seu amor maior.
Evidentemente ninguém pode ser contra a modernidade, mas é importantíssimo que ela não nos transforme em peças que dependem de outras peças. Ser verdadeiramente moderno é saber viver e deixar aflorar a emoção. Moderna e definitivamente. (Eli Halfoun)

Nenhum comentário:

Postar um comentário