Repare só como temos a terrível mania de reclamar de tudo. Estamos sempre insatisfeitos: reclamamos até de, como se diz popularmente, barriga cheia. Passamos tanto tempo reclamando que acabamos esquecendo que vencer os obstáculos que a vida nos impõe diariamente é que faz intenso o desafio de viver e não apenas de sobreviver. É a vida que nos ensina as lições de vida, geralmente com exemplos dos que aprenderam a ser menos “reclamações”. Foi o que aprendi observando comportamentos exemplares.
Quando passei na porta de um bar em uma movimentada rua da Zona Sul, no Rio, havia um homem sentado em uma cadeira de rodas com as duas pernas amputadas. Era bem menorzinho do que todos os outros que o cercavam, mas se fazia maior em entusiasmo e alegria, no prazer de estar vivendo. Copo de chope não mão o cadeirante aparentava ter em torno de 50 anos e ria as gargalhadas, falava alto e nem parecia importar-se de estar sentado em uma limitadora cadeira de rodas. Ainda mais em um país que ainda não aprendeu a respeitar os deficientes físicos.
Durante mais de uma hora o homem da cadeira e rodas ficou ali conversando, bebendo e rindo, mesmo estando fisicamente menor do que todos os outros companheiros de copo.
Na hora de ir embora o pequeno grande homem agigantou-se e ficou maior, muito maior, do que qualquer um de nós. Pagou sua conta e aos que pensavam que ia pedir ajuda para empurrar a cadeira de rodas deu uma lição de independência: saiu sozinho “manobrando” a sua cadeira de rodas, atravessou a rua, aproximou-se de um carro (tipo jipe fechado), abriu a porta traseira e antes mesmo que alguém viesse lhe prestar ajuda saltou como um perfeito e ágil ginasta, da cadeira párea o carro, puxou a cadeira de rodas, dobrou-a e a colocou no banco traseiro. Em seguida arrastou habilmente o banco dianteiro e saiu dirigindo com maestria, não sem antes deixar uma gorjeta na mão do impressionado guardador, muito mais necessitado - e não só de dinheiro - do que ele. O guardador sorriu e agradeceu não pelas moedas que tinha recebido, mas sim pela lição maior de ter aprendido que ninguém é incapaz para nada. Acompanhei o episódio: com curiosidade e admiração. Imediatamente lembrei de outro episódio assistindo a uma daquelas peladas que aconteciam nos campinhos do aterro do Flamengo. Em campo um jogador contrariava uma das máximas do futebol jogando com apenas uma perna. Era literalmente perna de pau de muleta e paradoxalmente também o craque do jogo: driblava com facilidade os adversários e as dificuldades do destino. Parecia um ágil saci o crioulinho bom de bola.
Ao ver anos depois o pequeno e limitado homem agigantar-se diante das limitações físicas estou convencido de que não existem limites (nem os físicos) para o ser humano por mais que a vida tente maldosamente (ou seria sabiamente) impô-los todos os dias. Vencer limites e dificuldades é só uma questão de força, De acreditar que tudo é sempre possível. (Eli Halfoun)
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
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