domingo, 15 de janeiro de 2012

CRÔNICA ----- Festas à brasileira

O brasileiro gosta mais de festa ou de feriado prolongado daqueles que emendam de quinta-feira até domingo ou mais por conta própria? Não é uma questão difícil de responder: o brasileiro de uma maneira geral gosta dos dois juntos. Ou seja, uma festa que possa ser esticada até o corpo aguentar e sem compromisso com a hora de acordar e ir trabalhar. Dirão os mais céticos que brasileiro não gosta é de trabalhar. Não é verdade: o brasileiro trabalha muito mesmo ganhando um miserável salário, como acontece na maioria das vezes.
Brasileiro gosta de festa sim: somos um povo naturalmente festeiro e essa talvez seja a “arma” de defesa que nos faz aguentar tanta exploração, tantos abusos e conviver com uma injustiça social que realmente melhorou um bocado, mas está longe, muito longe muito longe ainda, de ser a ideal. A injustiça social não acaba simplesmente porque existem muitos que preferem e precisam estar por cima em vez de estar próximo do mais simples trabalhador – trabalhador que ainda considera quase um escravo. O brasileiro pode sofrer fisicamente, pode aguentar injustiças (e aguenta muitas), mas nada, nada mesmo, lhe tira a alegria interior que parece sem dúvida fazer parte do nosso DNA.
Não há no mundo povo mais festeiro do que o brasileiro: encontramos em tudo um motivo pra festejar sem reclamar de nada. Que povo seria capaz de, como o brasileiro, transformar a laje de sua humilde (geralmente caindo aos pedaços) em um grandioso “palco” para churrasco, dança, sorrisos repartidos, abraços fraternos, enfim, um encontro de grandeza humana que na laje quente ou debaixo dela sobrevive às dificuldades que quase ninguém quer fazer alguma coisa para resolver.
O brasileiro é pobre de grana, mas não precisa de dinheiro para se divertir: o brasileiro é suficientemente rico (diria até milionário) em alegria e em saber e ensinar a dar a volta por cima. Só o brasileiro consegue fazer do papo sem compromisso no botequim da esquina uma festa fenomenal. O brasileiro se diverte na praia (que ainda é de graça) e principalmente no bar em frente para um santo chopinho gelado e uma animação intensa. Mesmo que esteja duro sempre encontrará alguém que lhe garante um chopinho. O brasileiro é solidário no chope. Afinal, tudo é festa para o brasileiro.
É por isso que temos as mais populares e festas do mundo. O carnaval é o exemplo maior de, pelo menos em alguns momentos, igualdade social: no carnaval somos todos reis e rainhas, somos todos iguais naquilo que melhor no define: a alegria de viver.
Os mais endinheirados podem sim curtir programas mais confortáveis, fartos e luxuosos, mas nem assim conseguirão encontrar em suas em chiques festas o alegre entusiasmo que une convidados das festas mais simples e nada mais sublime do que cervejinhas geladas (a maioria das vezes nem tanto) e a linguiça frita. Essa dupla vale mais do que champanhe ou qualquer quitute requentado porque cerveja quase morna e lingüiça fria e escorrendo o óleo da fritura vencida têm um tempero que não existe em qualquer canto do mundo: o tempero da alegria do povo brasileiro. Um povo que conquistou e continuará conquistando o mundo com um sorriso que vale mais do que o mais apertado dos abraços. Portanto, festas e feriados prolongados são indispensáveis para um povo que merece divertir-se, apesar de tudo. (Eli Halfoun)

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