sexta-feira, 11 de maio de 2012
CRÔNICA ----- Movimento maior
Se não fosse o inesperado que nos surpreende praticamente todos os dias o caminho da vida seria mais tranquilo, mas em compensação rotineiro e, portanto, chato. São as surpresas (boas ou ruins) que fazem com que o viver seja sempre uma deliciosa aventura da qual de uma forma ou de outra sempre podemos sair vitoriosos e geralmente mais inteiros. Percebi o quanto se pode ser completo e continuar vivendo na boa a partir de 1969 quando de repente acordei na cama de um hospital vítima de um surpreendente (eu só tinha 26 anos e um filho para nascer) AVC, que nós leigos chamamos de derrame cerebral. Era um acidente vascular surpreendente até para a medicina naquela época.
Depois de alguns dias em coma eu não estava acordando exatamente de um sono profundo. Estava sim acordando para a vida e para aprender a superar as limitações físicas que o acidente vascular impunha: a partir daquele momento aprendi (fui aprendendo aos poucos) o quanto o corpo é mais, muito mais, do que um simples movimento.
Também fui enxergando e sentindo o quanto o deficiente físico ainda é discriminado. Não é exatamente o meu caso porque voltei a trabalhar normalmente até porque nunca me deixei vencer pela (ou pelas) limitações, inclusive físicas. A verdade é que o deficiente (qualquer que seja a deficiência que carrega não) costuma ter oportunidades mesmo que seja um profissional competente. As pessoas costumam olhar para o deficiente físico com um misto de pena e de raiva.
Lembro que todos os que me visitavam (e não eram tantas visitas assim) pediam aos médicos praticamente a mesma coisa: “salvem os braços dele que ele precisa para escrever”.
Eu ouvia e nada dizia: apenas pensava (e sabia) que o tempo me permitiria mostrar que a deficiência física é sim uma limitação, mas se quisermos não chega a ser um problema sem solução. O problema está muito mais nas pessoas que não conseguem enxergar que é sempre possível superar obstáculos e vencer as limitações. Todas.
O salvem os braços dele praticamente suplicado aos médicos que não fazem milagre, não me incomodava porque eu sabia e refletia: coitados eles pensam que escrevemos com as mãos. (Eli Halfoun)
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