segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

SOMOS TODOS IGUAIS

Na piscina de um grande clube no Rio de Janeiro algumas raias são ocupadas todas as manhãs por “cadeirantes” (paraplégicos, tetraplégicos) e vitimas das mais variadas doenças (AVC, etc.) ou de paralisia cerebral que os fizeram alunos da natação especial. São especiais mesmo e não porque tenham necessidades especiais, mas sim por nos dar exemplos maiores de luta e de vida. Limitados fisicamente e às vezes mentalmente não perderam a alegria, a sabedoria, o entusiasmo que o dia a dia difícil ainda lhes oferece.
Verdadeiros atletas da e de vida nadam como se peixes fossem e se misturam aos chamados banhistas normais, que não lhes bloqueiam a presença e, pelo contrário, admiram aquela vitalidade, aquele entusiasmo, aquele mostrar que a vida é sempre possível. Sejam quais forem as limitações.
Não só os “atletas especiais” chamam a atenção: as mães, pais, tios, avós ou amigos que os acompanham também são especiais: ficam ali diariamente carregando com amor, altivez, orgulho e dignidade, o que poderia ser um fardo. São heróis doando suas vidas para dar vida a filhos, netos, sobrinhos, gente que precisa sempre de sacrifícios, atenção e carinho. É como se essas mães, esses tios, esses avós, tivessem sido escolhidos a dedo por Deus para nos mostrar que afeto, atenção e sacrifício ainda fazem a grandeza da vida e dos homens.
Exemplos assim saudáveis nos são oferecidos diariamente, a nos provar que a vida, o tempo que aqui passamos, é uma mistura de emoções, de sensações, de dificuldades e de alegrias desde que saibamos enxergá-la com amor, solidariedade e respeito. A tudo e a todos.
Em uma pequena galeria de movimentado bairro, um jovem que carrega (não digo sofre porque não tem consciência desse tipo de sofrimento: para ele tudo e todos são normais) de algum tipo de deficiência mental sai de um salão de beleza ao lado da mãe e cruza com um senhor mancando, puxando a perna. O menino-anjo olha e no tatibitate que é a sua linguagem mais inteira e mais pura chama a mãe e aponta para o senhor repetindo com o maior dos carinhos: “coitadinho, coitadinho”. A cena me emociona. Naquele momento tenho a certeza de que aquele menino-anjo pode ter perdido parte da atividade física e mental, mas tem o coração inteirinho. Cheio de amor.
Penso nisso ao tomar conhecimento do infeliz projeto, que certamente será repudiado na Câmara, apresentado pelo vereador Wilson Leite Passos que quer, em síntese, privilegiar o que chama de famílias saudáveis, Como se todas as famílias não fossem, só pelo fato de serem famílias, saudáveis ou como se alguém escolhesse ter filhos, netos ou sobrinhos com problemas de saúde .
Portadores de deficiência não são, mesmo que tenham nascido com elas, nenhuma vergonha para a humanidade, nenhum limite para a sociedade. São, do jeito que podem, saudáveis. Doentes, muito doentes, são as pessoas, como o tal vereador, que apresentam projetos preconceituosos e desumanos como o que pretende selecionar a humanidade e deixar no jogo da vida apenas os que não necessitem de tanta atenção. Como se as pessoas aparentemente saudáveis pudessem ser melhor do que as outras na emoção e no amor.
Mais do que o cruel e desumano projeto o que preocupa é que ainda exista quem faça e, o que é pior, o apresente para uma sociedade que tem mostrado estar absolutamente integrada com os que necessitam de cuidados especiais. Virar a cara aos deficientes físicos e suas heróicas famílias, é não querer enxergar a realidade, ver o mundo como ele realmente é. Deficientes físicos podem estar limitados de andar, mas jamais serão deficientes no afeto, no amor, na grandeza de viver. Deficientes de caráter e de vida são os que apresentam projetos desse tipo e os que não conseguem ver os exemplos de vida que os portadores de necessidades especiais dão diariamente.
* Mostrando que a vida sempre pode (e deve) ser vivida com luta. Com amor e o respeito que a vida, qualquer vida, merece.

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