terça-feira, 8 de maio de 2012
CRÔNICA ------- Menos amigos, mais saudades
Como tudo na vida envelhecer também tem muitas vantagens (paciência, experiência, entre outras) e desvantagens Os pessimistas certamente podem enumerar dezenas de desvantagens e dificuldades, principalmente físicas, que a idade impõe. A maior desvantagem da velhice é que a cada (mais um) ano de vida, o idoso risca um nome de seu caderninho de telefones: vida e morte praticamente caminham juntas. Tem sempre um velho amigo que nos deixa e acrescenta mais uma saudade para nossa velhice. Penso nisso ao receber a notícia do falecimento do amigo Renato Sergio, excelente jornalista de bom caráter, bom temperamento e texto refinado. Uma aula para quem buscava e busca escrever bem: Renatinho partiu, mas não levou os ensinamentos que nos deixou e que podem ser aprendidos e reaprendidos nos livros (tive a honra de ser citado em alguns) que escreveu e na muitas reportagens que deixou impressas eternamente nas páginas da revista Manchete.
Ultimamente receber a notícia de que um velho amigo se foi parece fazer parte do novo cotidiano do idoso. Todo dia um se vai porque a partida, mesmo sem despedida, faz parte do jogo da vida. O triste resultado é que a cada dia os velhos têm menos um amigo, o que e nos mostra com clareza que estamos na fila de espera torcendo para que a fila da vida demore a andar até chegar a nossa vez.
Cada amigo que sai de cena deixa, além de muitas lembranças, um assunto que também é rotina no encontro, mesmo casual, de idosos.
Percebi isso com mais clareza recentemente ao passar ao lado de três idosos (um casal e um amigo) que conversavam em uma esquina. Era impossível não ouvir o que diziam: falavam alto como, aliás, costumam fazer todos os velhos simplesmente porque começam a perder a audição. A conversa chegava a ser engraçada: os três relembravam os velhos tempos e quando o nome de alguém era citado o complemento era automático: “ah”! fulano morreu, não sabia?” “E a fulana vocês tem visto?” Nova resposta automática: “também morreu” A lista dos amigos mortos era imensa e daria para preencher horas de saudade e conversa, mas os idosos se mancaram e mudaram de assunto: param de falar da morte para falar de vida que essa sim precisa ser encarada até a cena final. Por alguns minutos os três idosos ficaram apenas olhando uns para os outros, como se estivessem contando mentalmente quantos amigos tinham a menos
A perda de amigos é que entristece a velhice. Se ninguém morresse a velhice seria divina. De certa forma é porque a morte também pode ser divina na saudade e principalmente nos exemplos que deixarmos. (Eli Halfoun)
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