quinta-feira, 2 de junho de 2011

CRÔNICA ---- Na conta do cearense

O que é ficção? O que é realidade? Essa dúvida está presente em cada um de nós, ainda mais quando se sabe que ficção virou realidade. Absurda e inacreditável. De uma maneira geral o público costuma agir com descrença quando vê no cinema, nas novelas ou nos seriados personagens e situações que parecem impossíveis de acontecerem de verdade, ou seja, na vida real.. Mas a verdade é que nessa vida que chamamos de real (será mesmo?) algumas situações podem ser mais surpreendentes das ficcionais.
É na noite (na boca da noite tem sempre um gosto amargo de sol) que surgem pessoas e situações que parecem ter saído de livros. Um inacreditável personagem real encontrei faz algum tempo em uma boate de Copacabana, no Rio: o homem de cabeça chata, barba grisalha e sorriso largo (já tinha tomado todas) e aparentando pouco mais de 50 anos estava cercado de mulheres (as que trabalhavam na boate). Parecia divertir-se como nunca havia se divertido na vida. Fazo0a questão de repetir quase gritando era cearense. Deixava as mulheres que o cercavam beberem o que quisessem porque como dizia em voz alta “dinheiro não é problema”. Virou o dono da noite, o que deve ter sido uma festa também para seu ego.
Naquela noite o cearense baixinho cresceu, agigantou-se, para ser o astro principal. Vai ver era isso mesmo o que queria. Fiquei observando (mania de repórter). Pedi uma cerveja no balcão do bar em que o cearense fazia seu domínio.. Quando quis pagar o barman que já me conhecia limitou-se a dizer sorrindo: “deixa que essa eu boto na conta do cearense”. Essa até aquela altura quantas mais?
Foi assim durante toda a noite. Nem sei se o cearense tinha consciência do que estava acontecendo. Imagino que na hora de pagar a conta deve ter ficado (no susto) bom do porre homérico. Sem arrependimento ou culpa: afinal, naquela noite ele tinha sido rei. Rindo e falando sem parar.
Quando saí da boate o cearense ali ficou cercado de mulheres e como centro das atenções. Certamente quando acordou na tarde seguinte teve uma também histórica dor de cabeça. Dor de cabeça eu não tive, mas naquela noite percebi e aprendi que a vida nos faz a cada dia inacreditáveis personagens. Que nem a melhor das ficções consegue criar. (Eli Halfoun)

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