quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CRÔNICA ----- Todos por todos

Elegantemente vestido (terno bem cortado, camisa branca bem passada, gravata de seda) o rapaz entra na padaria, pede um refrigerante de dois litros e reclama quando lhe dão o preço: “é R$ 3,45” informa o gerente para espanto do freguês que reage: “É um absurdo, na vendinha aqui ao lado custa 2,80”. O gerente tenta justificar: "se eu vender por R$ 2,80 vou ter que fechar o estabelecimento” O rapaz: responde educadamente (a educação é sempre a “arma” mais eficiente): “como é que a vendinha não fecha...”. Resultado o freguês, que não demonstra, pelo menos no modo de vestir-se, ter nenhum problema financeiro, desiste da compra: “por esse preço absurdo eu não compro”.
Freguês reclamando do preço de mercadoria é uma cena comum, no Brasil mesmo que agora se orgulha de não mais ser vítima de uma exorbitante inflação, como na época em que enquanto a gente dormia os preços aumentavam para fazer o pesadelo do dia seguinte. A ganância dos comerciantes e a cada vez mais sacrificada sobrevivência acabaram por nos ensinar que é preciso reagir contra os absurdos. Quaisquer que sejam.
A reação começa com a tomada de consciência da necessidade de não se deixar em hipótese nenhuma ser explorado. Não, o brasileiro não está aprendendo a pechinchar, que isso ele sempre fez e precisou fazer bem. O brasileiro está aprendendo a precaver-se, a não se deixar enganar e explorar.
Não é a padaria, o armazém, o supermercado que deve impor o preço. É o consumidor: cada vez mais é preciso pesquisar e procurar alternativas para evitar o verdadeiro “mãos ao alto” do comércio. Um real a mais ou a menos certamente não fará muita diferença, mas quando esse mísero real representar uma extorsão deixe a mercadoria no balcão como uma forma de impedir que o comerciante arregale ainda mais os olhos gananciosos. Não é uma opção. É uma obrigação
Somos nós, consumidores geralmente desprotegidos e explorados, que devemos pagar apenas o preço justo. Se todos deixarem no balcão o refrigerante de R$ 3,45 para comprar, mesmo que seja no dia seguinte, o mesmo refrigerante por R$ 2.80 o estabelecimento perderá fregueses e não lhe restará alternativa a não ser a de reduzir o preço. Ou, por falta de fregueses bobos, fechar definitivamente. Se cada um de nós assim fizer a briga será de todos por todos.
A consciência diante dos fatos e da verdade mostra claramente que passou o tempo em que se deixava tudo pra lá em nome de um conformismo absurdo e de pensar “que diferença fará um real a mais ou u real a menos”. Aprendemos que faz diferença, sim, se não pelo dinheiro pela justiça de não se deixar explorar pelos comerciantes, como se eles fossem os donos absolutos do mercado. Nós consumidores é que somos e juntos temos a força do “todos por todos”. Parece que já aprendemos isso. Precisamos aprender muito mais.
* A vida sempre nos ensinará como e quando (Eli Halfoun)

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