quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

CRÔNICA ----- Cacos de vida

Todo mundo tenta, mas nem Freud, o gênio da psicanálise, conseguiu entender direito e completamente o comportamento humano até porque esse comportamento varia de pessoa para pessoa. O comportamento de cada um de nós é para nós mesmos um definitivo ponto de interrogação. Cada um tem sua “loucura” particular e essa é, às vezes, até benéfica porque não nos deixa aprisionados a uma rotina na maioria das vezes insuportável.
É o comportamento coletivo o que mais incomoda e preocupa, além de ser também o que nos propõe os mais variados questionamentos. Repare como você está sempre se perguntando por que fez determinada coisa e, principalmente, porque os as pessoas agem de uma maneira incompreensível. Uma pergunta constante é “por que será que temos a terrível e até masoquista tendência de destruir as coisas que nos são ou serão úteis?”
É difícil compreender o que leva as pessoas a destruir, por exemplo, os orelhões que elas precisam utilizar, mas inutilizam sem dó nem piedade. Dos orelhões e delas mesmo.
Fazem isso com muitas outras coisas que são úteis no cotidiano. Tudo bem que com essa mal educada (parece que as pessoas estão falando, ou melhor, gritando, sozinhas nas ruas) mania da utilização do telefone celular os orelhões passaram a ter menos utilidade, mas não se justifica que sejam destruídos, eliminados da vida de quem ainda os necessita. Mais dias menos dia qualquer um de nós, prisioneiro do celular, necessitará de um orelhão.E ele não estará lá.
O orelhão é apenas um dos muitos exemplos de um cada vez mais incompreensível comportamento do homem que elimina o conforto e facilidade que é útil para o bem comum. A impressão quer se tem é que essa destruição não é, como querem muitos, um desabafo revoltado. Está mais, muito mais, para uma espécie de autopunição porque quem destrói e, geralmente, quem mais precisa.
Lembro que quando jovem e sonhador repórter fui escalado para a cobertura de uma viagem que o então ministro dos transportes faria em um dos trens que a Central do Brasil acabara de reformar. Segui viagem da Central até a última estação. O ministro voltou de carro e eu, repórter, preferi voltar no mesmo trem para saber como o usuário se comportaria sem a presença da, digamos, autoridade.
Quando desembarcamos de na estação Central do Brasil, o recém reformado trem já estava rabiscado e com várias outras marcas da estranha violência do homem. Na jovem ingenuidade não entendi o que teria levado as pessoas a destruir aquilo que utilizavam. Não entendo até hoje. Acho que nunca entenderei ou aceitarei.
Continuamos destruindo as coisas que nos servem e assim destruindo qualquer possibilidade de melhora para o sacrificado dia a dia que insistimos em fazer ainda pior. Não aprendemos que nada se modificará enquanto tivermos essa ânsia de destruir tudo. Principalmente a nós mesmos. Quem quebra as coisas úteis ao coletivo está quebrando sempre um pedacinho de si. Até acabar virando um caco. Aí sim sem a menor utilidade (Eli Halfoun)

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