sábado, 31 de dezembro de 2011

CRÔNICA ---- Bonequinhos de luxo

A festa era na casa vizinha, em um condomínio de classe média, e lá estavam muitos convidados bem vestidos e exibindo relógios caríssimos, lindas pulseiras, grossos colares de ouro, roupas de marcas e de qualidade. Estavam todos verdadeiros bonequinhos de luxo e me dei conta que, de repente, cada convidado, às vezes até parentes e amigos íntimos, admirava uns nos outros jóias que não conheciam e que nem sabiam que o outro tinha.
Esse tipo de, digamos, descoberta tem sido comum em festas e reuniões sociais que não exigem que se ande pela rua ostentando o que, na maioria das vezes se ganhou com muito trabalho e sacrifício. O novo e violento tempo que estamos vivendo e que parece não ter fim já não nos deixa exibir a vaidade na rua: as pessoas estão – e tem toda razão – com medo de sair com jóias, roupas de qualidade e quaisquer outros objetos quer possam chamar atenção dos muitos ladrões que nos cercam em todas as ruas, em todos os bairros e todo momento. Do jeito que as coisas caminham quanto menos se mostra mais garantido, supostamente, a gente está e não é à-toa que os camelôs vendem mais relógios, mais bijuterias, mais objetos falsificados porque esses são os únicos que ainda podemos perder e que infelizmente, o cidadão de bem ainda pode usar e assim mesmo com muito medo de ainda assim ser assaltado e sofrer, por não ter nada que preste (a não ser a própria vida) todo tipo de violência diante de uma reação que é desaconselhável, mas que na maioria das vezes, até pelo fator surpresa, se torna uma reação inevitável.
As ruas continuam cheias de pivetes que em bando apavoram a população, assaltam sem dó nem piedade e se transformam nos donos das ruas, avenidas e praças pelas quais nós, que pagamos altos impostos, deveríamos poder andar livres e tranquilamente A época é de usar o que se tem de valor material apenas em casa como bonequinhos de luxo diante do espelho. Tem muita gente que nem no espelho pode se olhar porque tudo o que possui foi, de uma forma ou de outra, roubado do povo. (Eli Halfoun)

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