A solidão está cada vez maior. Os solitários mais sozinhos. É fácil reparar isso quando se tem coragem de circular pela noite. As ruas estão vazias. As poucas pessoas que ainda se atrevem a caminhar durante a noite andam apressadas, olhando de um lado para o outro - sinal de que estão amedrontadas. Apavoradas, como se quisessem chegar o mais rápido possível a um porto-seguro que faça menos provável qualquer surpresa, geralmente violenta na escuridão da noite.
No táxi que o jovem motorista conta que trabalha até as 10 ou 11 horas da noite, mas “por pura teimosia” porque sabe que depois das 8 no máximo 9 horas da noite não haverá passageiros simplesmente porque ninguém estará na rua. A escuridão da noite virou um silencioso toque de recolher. Ninguém se aventura a sair de casa quando a noite cai
A vida noturna transformou-se em armadilha. O medo da violência apagou as luzes que iluminam as noites com diversão ou no mínimo como consolo e fuga para os que estão sós. Os não poucos solitários fugiam da solidão saindo nomeio da noite para dar uma volta, tomar uma cerveja em um boteco qualquer. Fingir que não estão sós.
Agora o solitário é obrigado a ficar em casa porque não vale a pena arriscar-se a sair na noite. A noite carioca sempre foi umas das mais badaladas do país garantindo com seu intenso movimento emprego e diversão para muitos. Não é mais assim: todo dia um restaurante, uma boate ou um simples boteco deixa de existir por falta de freguesia. Os que ainda resistem heroicamente são obrigados a fechar mais cedo: depois da 8 horas da noite convivem muito mais com mesas vazias do que com fregueses.
Quem mora sozinho, sozinho tem de ficar. Se depender de “matar o tempo” em um passeio pela rua não mais o faz. Não existe espaço para quem quer apenas andar tranquilamente.
Tudo bem que a solidão nada tem a ver com estar acompanhado: às vezes o solitário pode estar com várias pessoas e continuará só. A solidão se instala dentro de cada pessoa: sair na noite permitia pelo menos tentar enganar a solidão e encontrar, mesmo que apenas olhando o movimento, um motivo para preencher o vazio, preencher o tempo. Preencher a vida.
Hoje até quem olha pela janela não vê nada. A noite deixou de ser motivo de inspiração, de diversão e de encontros, mesmo os apenas casuais. Agora na escuridão da noite só se encontra medo. E mais solidão. (Eli Halfoun)
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
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