sábado, 10 de dezembro de 2011

CRÔNICA ---- Mania Nacional

Triste realidade: acostumamos-nos tanto com a desonestidade no país, que até passamos a acredita que em matéria de roubos nada mais no surpreenderá: a desonestidade parece ter ser transformado em conduta normal. Virou rotina: todos os dias espocam noticias de falcatruas em falcatruas no governo e em outros muitos roubos aqui e ali, incluindo os embutidos nos preços das mercadorias que nos vendem como se não representassem um extorsivo abuso dos comerciantes. Todo dia somos roubados de alguma forma: levam-nos o dinheiro dos impostos e não nos devolvem em forma de serviço, especialmente os de saúde e educação. É tanta roubalheira que a população fica indignada, mas não se assusta com o que lê e ouve. Pior: também pensa entrar para o time dos espertalhões “porque cansou de ser bobo”.
Sempre ouvimos que “amor com amor se paga”, mas estamos começando a acreditar que “desonestidade com desonestidade se paga” como se esse fosse um bom exemplo e uma justificativa quando ficamos tentados a fazer o que se faz de errado. Também acreditava quer não me surpreenderia com mais nada, mas fiquei não só surpreso (e indignado) quando ouvi alguém contar com orgulho que recuperou o dinheiro das multas de trânsito aplicando um desonesto corretivo na Prefeitura: conseguiu com um médico do Município receitas para retirar medicamentos gratuitos. Não precisava usar os medicamentos, mas mesmo assim os tirou de quem necessitava. O que fez com os remédios? Simples vendeu-os para uma farmácia que certamente os revendeu com mais lucro. Em nome de uma “injustiça” cometida com ele cometeu uma ainda maior prejudicando doentes. Esse feito era contado em voz alta em um bar para muitas pessoas que acompanhavam o “ato heróico” com atenção Só faltou o espertalhão de quem devem ter morrido de inveja. E ainda por cima diziam que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Não tem não: ladrão não tem perdão mesmo quando rouba outro ladrão. O episódio me chamou atenção porque os ouvintes pareciam achar normal que cometer pequenos delitos (esperei a hora e cada um contar o seu) é desculpável, mesmo que a consciência condene com veemência esse tipo de atitude mesquinha e desonesta. O ladrãozinho estava orgulhoso de sua “esperteza”, mas para ficar bem na fita repetia: “fiz uma coisa que doeu meu coração”. Mentira: quem faz esse tipo de coisa não tem coração. (Eli Halfoun)

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