terça-feira, 6 de dezembro de 2011

CRÔNICA- Amor brega

Todo mundo fala, mas ninguém sabe exatamente o que é estar ou ser brega. Essa é uma definição que todos usamos (é igual a transar que pode significar muitas coisas como, por exemplo, transação comercial ou relação sexual) para definir na maioria das vezes, o duvidoso gosto para determinadas roupas ou o péssimo ouvido para músicas populares que costumam fazer sucesso entre um público também chamado brega.
Não há nada mais brega do que o amor. Ou a falta de. Todas as declarações de amor são piegas, ridículas, de uma “breguice” que quando apaixonados nem percebemos. É por isso que as populares canções de amor agradam a todo o tipo de público. É impossível cantar o amor sem que a melodia não esteja acompanhada de uma letra que fale com simplicidade diretamente ao coração. Até porque, quando se trata de amor, o complicado coração é de uma fragilidade absoluta e deliciosamente real.
Estão aí Roberto Carlos, Zezé Di Camargo e tantos outros que cantam o amor dizendo, mesmo que seja com “breguice”, o que todos gostariam de dizer, por mais piegas e ridículo que isso possa ser. A falta de amor também é absolutamente piegas e não teria o sofrimento que parece exercer se brega não fosse. A diferença é que alguns afogam as mágoas em luxuosos copos de uísque e outros, os assumidamente mais bregas, em copinhos de cachaça, mas ao final de várias doses todos acabam ou gostariam de acabar sentados em um meio fio qualquer chorando e se lamentando. Por mais brega que isso possa ser.
Mesmo quando se trata de amor, quase ninguém gosta e consegue assumir que é brega. Não se foge do fato de ser brega, mas sim do rótulo de mau gosto que a palavra brega acaba ganhando e significando. Ninguém gosta de ser rotulado de brega. Esse tipo de reação não devia estar ligado somente ao ser ou não ser brega, estar ou não estar piegas e ridículo, mas sim a todo e qualquer rótulo. Rótulo é uma marca, uma imposição. É contra essa imposição que se deve, sim, reagir. O ser humano não nasceu para ser rotulado. Cada um de nós tem o direito (diria até o dever) de ser e agir como melhor é e lhe convier e entender.
Quem tenta fugir (ninguém consegue inteiramente) de ser brega no amor é porque não ama tão intensamente quanto acha, pensa e necessita. Ser brega é parte fundamental do amor, ouvir música brega faz parte do amor e da vida.
* Pensando bem viver também é, na maioria das vezes, muito brega (Eli Halfoun)

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