segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CRÔNICAS---- Os craques da vida

Reclamamos tanto que esquecemos que vencer os obstáculos que a vida impõe é o grande desafio de viver e não de apenas sobreviver. As lições de vida é a vida que nos ensina, muitas vezes com exemplos de força e superação de outras pessoas. Aprendi observando comportamentos exemplares em momentos difíceis.
Quando passei na porta do bar um homem sentado em uma cadeira de rodas com as duas pernas amputadas ficava bem menorzinho do que todos os outros que o cercavam ao lado de mesas improvisadas com bancos. Copo de chope na mão o amputado aparentava ter 50 anos, ria as gargalhadas, falava alto e não parecia importar-se de estar ali sentado naquela cadeira limitadora, ainda mais em um país em que não há o menor respeito com o deficiente físico.
Durante mais de uma hora o homem da cadeira de rodas ficou ali conversando alegremente mesmo estando menor, só fisicamente, perto dos colegas de papo e de copo.
Na hora de ir embora o pequeno grande homem se agigantou: pagou sua conta e aos que pensavam que ia pedir ajuda para empurra a cadeira de rodas deu uma lição de independência e saiu sozinho “manobrando” a cadeira com maestria, atravessou a rua aproximou-se de um carro, abriu a porta traseira e antes mesmo que alguém viesse lhe prestar ajuda saltou como um perfeito e ágil malabarista da cadeira para o banco do motorista, puxou a cadeira de rodas, fechou-a com habilidade, colocou-a no banco ao seu lado e saiu dirigindo não sem antes deixar uma gorjeta para o impressionado flanelinha, muito mais necessitado não só de dinheiro, mas principalmente de força de vida do que aquele considerado incapaz.
Acompanhei a cena com admiração e até certa inveja. Lembrei de outro episódio que há anos me chamou atenção: a pelada corria solta no aterro e um dos jogadores contrariava uma das máximas do futebol: era literalmente perna de pau e mesmo assim um craque. Crioulinho esperto fazia sem uma das pernas, substituída por uma muleta, jogadas endiabradas: driblava os adversários, driblava as dificuldades do destino. Parecia um Saci o crioulinho bom de bola e bom de vida.
Agora ao ver o pequeno-grande homem agigantar-se diante de suas limitações físicas estou convencido de que não existem limites físicos ou emocionais para o ser humano, por mais que a vida tente impô-los diariamente. Vencer limites e dificuldades é só uma questão de força. De acreditar que tudo é sempre possível.

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