Gustavo, o caçula, era diferente dos três irmãos. Não gostava de festas, namorava por pouco tempo (tinha várias namoradinhas, mas eram todas coisas passageiras). Louro, olhos azuis, alto e forte desde os 15 anos Gustavo tinha lá suas manias: enquanto os irmãos gostavam de festas, de sair com os amigos e de “comer” todas as menininhas do bairro e adjacências ( orgulhavam-se de “não deixar escapar nenhuma”) Gustavo preferia ir ao cinema sozinho. Adorava filmes românticos e musicais e a cada novo filme ficava, depois, horas em casa tentando reproduzir em desenhos as roupas femininas que mais tinha gostado. O pai, um velho, severo e ranzinza militar, ficava puto com o filho caçula e “suas estranhezas”, mas era sempre tranquilizado pelos outros filhos:
- Deixa pra lá, papai. Ele só é tímido, depois isso passa.
Quando Gustavo completou 18 anos foi pedir, como já tinham feito os irmãos mais velhos, a interferência do pai para “não servir o Exército”. A reação do velho e sisudo coronel, que criou os filhos praticamente sozinho desde que ficou viúvo, foi como a de um cão raivoso. Só faltou latir:
- Vai servir o Exército, sim pra ver se aprende a ser homem e acaba com essa mania de ficar desenhando vestidinhos e dançando como uma mulherzinha, uma putinha qualquer
Gustavo quase chorou de raiva. Só não chorou aos prantos para mostrar ao pai que era macho. Mas não se deu por vencido: no dia seguinte saiu cedo de casa e foi procurar um velho amigo, também militar influente, do pai e pediu ajuda para ser dispensado. Inventou que o pai estava viajando e que por isso não podia interferir, naquele momento, a seu favor. O amigo atendeu e Gustavo escapou do Exército, mas não escapou da surra do pai que dessa vez usou até o velho e grosso cinturão. Cheio de marcas Gustavo saiu de casa na mesma noite e procurou uma velha tia ( irmã de sua falecida mãe) para pedir ajuda. A tia ficou com pena e permitiu que Gustavo ficasse em sua casa, “mas só por uns dias, até seu pai se acalmar”. Foram, apesar da falta que sentia dos irmãos, dias felizes para Gustavo que aprendeu muitas coisas com a tia, inclusive a costurar, sonho maior de sua vida e a oportunidade de poder, enfim, reproduzir os vestidos que suas atrizes prediletas usavam nos filmes da Metro. Um mês depois o velho militar foi buscar, graças a insistência dos outros filhos, o caçula Gustavo. Foi um reencontro emocionante: abraçaram-se com entusiasmo e o militar de aço deixou até escapar uma lágrima, que fez questão de disfarçar imediatamente. Quando chegaram em casa, o velho militar, já recuperado da emoção do reencontro foi logo avisando:
- Vê se arranja logo uma namorada. Daqui a pouco você vai ficar falado e eu não quero ouvir nenhum comentário. Filho viado eu mato... mato de porrada.
Gustavo não queria namorada nenhuma. Já tinha descoberto sua preferência sexual mas por medo do pai e dos irmãos machões nunca tinha transado com nenhum coleguinha. Vivia triste e amargurado sem poder assumir sua verdade. Ricardo, o irmão mais velho, percebia a infelicidade de Gustavo, procurava conversar, mas não dava a menor força para o desconfiado homossexualismo do irmão. Fingia não saber de nada e repetia:
- Viadagem não é opção sexual. É semvergonhice mesmo.
Gustavo ouvia sem nada dizer. Pensava:
- Será que eu vou morrer sem fazer o que gosto?
E ficava mais triste do que nunca com a total falta de esperança. Esperança que renasceu quando conheceu Fernandes, um amigo de Ricardo e que, por era estilista ( era ele que fazia as roupas das muitas namoradas do machão Ricardo e só isso podia explicar essa estranha amizade). Foi olhar e gostar: Gustavo e Fernandes ficaram muito amigos e começaram a sair juntos para ver as vitrines e copiar os modelos de roupas, ir ao cinema, tomar um suco. Eram saídas diárias que deixaram Gustavo, enfim, com vontade de viver. Até o velho e sisudo militar percebeu a diferença e mesmo sem querer dar o braço a torcer não conseguiu disfarçar a felicidade de ver o filho numa boa. Fernandes tratou de arranjar duas amigas para acompanhá-los: assim o pai e os irmãos de Gustavo ficariam “mais tranquilos”. Combinaram uma viagem com a desculpa de que as “namoradas” também iriam. Elas não foram e Gustavo e Fernandes puderam ficar “enfim sós”. Já no caminho, quando pararam para tomar água numa fonte de beira de estrada aconteceu o primeiro e tão esperado beijo entre os dois. Foi uma apaixonada cena de cinema. O resto da viagem foi de mãos dadas. Gustavo suava de tanta emoção. Chegaram ao hotel já noitinha e foram direto ao aconchegante restaurante para jantar, tomar vinho e conversar. Tinham muito a falar. Foram, entre duas garrafas de vinho italiano, intermináveis e apaixonadas juras de amor. Não havia mais ninguém no restaurante quando se retiraram e o fizeram abraçadinhos, como um casal em lua-de-mel. Só faltou Fernandes colocar Gustavo no colo, como se fosse uma noiva recém casada, para entrar no quarto. Não foi preciso: entraram agarradinhos, atiram-se na cama e pela primeira vez Gustavo deixou seu desejo fluir naturalmente. Beijaram-se na boca longa e apaixonadamente. Fernandes, mais experiente, começou a acariciar Gustavo como se estivesse dando uma aula de sexo. Gustavo aprendeu rápido e assim trocaram carícias, por todo o corpo, durante mais de uma hora até que Fernandes, o sábio professor, virou Gustavo lentamente de bruços, apanhou um pote de vaselina com a qual untou o pau e penetrou na bunda virgem de Gustavo que deu um grito de dor e prazer. Gustavo gozou, como ele mesmo disse, “o gozo dos deuses”, o que deixou Ferenandes mais excitado do que estivera durante toda a viagem. Ensinou:
- Agora vem você por cima
Foi um fim de semana de amor e descobertas sexuais, que deixaram Gustavo “de bem com a vida”. De volta ao Rio fingiram uma sólida amizade e só conseguiam maior intimidade no escurinho do cinema, agindo ( mão na mão, mão na coisa) como jovens e apaixonados namorados. Foi num fim de semana que surgiu a oportunidade de dormir juntos outra vez. O pai e os irmãos de Ricardo viajaram para o sítio de um amigo e Gustavo, com o pretexto de ajudar Fernandes num desfile de moda ficou em casa. Ricardo, o irmão de Gustavo, também dispensou a viagem para passar o fim de semana com a nova namorada.
Uma briga acabou com os planos de Ricardo e ele voltou para casa. Era madrugada quando entrou. Foi direto para o quarto de Gustavo ver se ele já tinha chegado. Viu muito mais: nus e agarradinhos Gustavo e Fernandes dormiam sorrindo como anjos. Ricardo entendeu a situação. Pegou um batom que estava jogado no chão e escreveu no espelho da porta do armário: “O amor é lindo”.
Saiu feliz por estar vendo pela primeira vez o irmão caçula também feliz. Feliz e livre para viver os seus desejos.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
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